"O interesse dos músicos não parece estar a ser salvaguardado, na medida em que nem a CMP [Câmara Municipal do Porto] nem a Administração do CC Stop mostram interesse em dialogar formalmente, o que é preocupante para a comunidade dos músicos que há mais de 20 anos mantêm e utilizam o espaço", refere um comunicado hoje da Alma Stop.
De acordo com a associação, esta encetou tentativas para, "nos últimos meses, por várias vezes, reunir e comunicar com o Dr. Rui Moreira [presidente da Câmara do Porto] e o Dr. Ricardo Valente [vereador com os pelouros da Economia, Emprego e Empreendedorismo e Finanças, Atividades Económicas e Fiscalização]", mas sem sucesso.
Segundo a Alma Stop, a última reunião com Ricardo Valente remonta ao dia 28 de novembro de 2023, algo confirmado à Lusa pela autarquia, acrescentando que foram discutidas as questões de cargas e descargas, que não são responsabilidade sua, sendo remetidas para o relacionamento entre a associação e o condomínio.
A autarquia adianta ainda que o futuro do edifício depende da resolução da questão das saídas de emergência e de um novo projeto de arquitetura, bem como de uma vistoria da Proteção Civil, que a Alma Stop diz aguardar "ansiosamente".
A autarquia informou ainda que as partes se irão reunir brevemente.
A Lusa contactou ainda a administração do Stop e aguarda resposta.
Os proprietários do centro comercial Stop têm em curso um projeto de reabilitação para transformar alguns espaços num 'coworking' cultural, afirmou na segunda-feira o vereador com o pelouro da Economia da Câmara do Porto, Ricardo Valente.
O município está também dependente do desfecho da "litigância entre privados", referindo-se aos proprietários do Stop e do terreno nas traseiras do centro comercial, para avançar com a compra dos cinemas.
Quanto à escola Pires de Lima, solução apresentada pelo município aos músicos em alternativa ao Stop, o vereador com o pelouro do Urbanismo, Pedro Baganha, esclareceu que a equipa projetista já foi contratada e que, neste momento, está a ser desenhado o projeto com vista à sua projeção faseada.
No comunicado, a Alma Stop dá conta que "há várias salas a serem compradas e algumas delas colocadas a arrendar a preços bastante superiores aos praticados no centro", manifestando ainda preocupação sobre a instalação de atividades não culturais no centro, que poderão causar uma "enorme desvirtuação" ao espaço de trabalho dos músicos.
A associação questiona também "de que forma é que a classificação do edifício como monumento de interesse municipal [iniciada em maio] irá contribuir para salvaguardar a permanência e continuidade da comunidade músicos" e "como é que a aquisição dos cinemas por parte da CMP irá ajudar economicamente o CC Stop".
"Em suma, permanece a sensação na comunidade de que os músicos não serão bem-vindos a médio/longo prazo e que há uma movimentação para a gentrificação do CC Stop e lenta expulsão dos músicos, desvirtuando e transformando o centro de forma a que a comunidade artística se torne estranha no espaço que esta própria criou", resumem.
Lembram ainda que o Stop "é um caso único a nível mundial, que surge do trabalho autónomo e independente de milhares de artistas da cidade do Porto ao longo de décadas, uma estrutura cultural da cidade e do país com reflexos enormes na criação, produção e distribuição de obras culturais".
O Stop, onde maioritariamente funcionavam salas de ensaio e estúdios, viu a maioria das frações serem seladas a 18 de julho de 2023, deixando quase 500 artistas e lojistas sem terem para onde ir, mas reabriu a 4 de agosto, com um carro de bombeiros à porta.
Neste momento, o centro comercial está a funcionar por tempo indeterminado, na sequência de uma providência cautelar interposta pelos proprietários à decisão da câmara de encerrar o edifício.
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