O canal BFMTV, citado pela agência Efe, revelou que Jane Birkin morreu em casa. A causa da morte e outros detalhes não foram revelados.

A artista estava há algum tempo afastada dos palcos, embora tenha voltado pontualmente ao trabalho após sofrer um ataque vascular cerebral, em 2021.

Birkin, que foi parceira musical e romântica do cantor francês Serge Gainsbourg, enfrentou problemas de saúde recentemente e foi obrigada a cancelar vários concertos.

A britânica ganhou fama com a sua turbulenta relação com o icónico músico, compositor, intérprete e poeta Serge Gainsbourg e graças ao seu francês com forte sotaque.

Filha do oficial da Marinha Real e espião durante a Segunda Guerra Mundial, Dave Birkin, e da atriz Judy Campbell, Jane Birkin nasceu a 14 de dezembro de 1946, em Londres.

De silhueta andrógina e beleza adolescente, encarnou como poucas o estilo entre boémio e chique, que anos depois seria herdado pela sua filha Charlotte Gainsbourg, uma das principais atrizes do cinema francês e também cantora e compositora.

Em 1969, gravou "Je t'aime, moi non plus", canção que foi sucesso mundial e provocou escândalo pelos seus sussurros e gemidos. Serge Gainsbourg escreveu o tema a pensar em Brigitte Bardot, com quem teve um relacionamento amoroso. Bardot proibiu a versão inicial da canção, com a sua voz, e a decisão abriu a porta para que Jane Birkin entrasse para a história.

Jane Birkin

Em fevereiro passado, a artista participou, em estado muito frágil, na cerimónia dos Césares, os prémios anuais do cinema francês, ao lado da filha Charlotte e da neta Alice.

"Inimaginável viver em um mundo sem a tua luz", escreveu no Instagram o cantor Étienne Daho, um dos seus amigos mais próximos e das primeiras figuras públicas a reagir à sua morte. O artista foi coautor de "Oh, pardon tu dormais....", canção e título do aplaudido álbum de Birkin editado em 2020.

O presidente francês, Emmanuel Macron, prestou homenagem a uma "artista completa", que "cantou as mais belas palavras da nossa língua".

GAINSBOURG-BIRKIN

Paixão, glamour e momentos difíceis

"Quando vejo os franceses a ouvir músicas de há 40 anos atrás, sei que elas passaram a fazer parte da sua história. E eles também fazem parte da minha”, explicou Jane Birkin em 2018, quando publicou as memórias "Munkey Diaries".

No cinema, atuou em "Blow-up - História de um Fotógrafo", filme de Michelangelo Antonioni premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1967, e em "A Piscina", de Jacques Deray, ao lado de Romy Schneider e Alain Delon em 1969. Também trabalhou com cineastas como Jean-Luc Godard, Jacques Doillon e Agnès Varda e participou em mais de 70 títulos.

O relacionamento com Serge Gainsbourg, que conheceu durante a produção de um filme em 1968, mudou a sua carreira. E ao lado do francês, formou um casal mítico na Paris da década de 1970, com momentos de paixão, glamour e escândalos.

Em 1971, dá à luz a Charlotte. Serge e Jane editam um novo álbum, "Histoire de Melody Nelson", que a princípio foi um fracasso comercial, mas que com o tempo se tornou um disco de culto.

Jane Birkin

Sem conseguir suportar a relação com um Gainsbourg às vezes excessivo e violento, Jane Birkin abandonou o apartamento da família em Paris em 1981, com as filhas Kate (nascida da sua união com o compositor britânico John Barry) e Charlotte, e reconstruiu sua vida com o cineasta Jacques Doillon (com que teve a terceira filha, Lou Doillon).

Muito depois da morte de Serge Gainsbourg, em 1991, e apesar de momentos muito duros como a morte da filha Kate Barry, em 2013, e de uma leucemia de tratamento difícil, continuou a interpretar as canções do músico francês.

Em 2008 lançou o primeiro álbum com canções da sua própria autoria, "Enfants d'hiver". Mas o seu sucesso permaneceu irremediavelmente ligado a Gainsbourg, como demonstraram a digressão "Arabesque" e o álbum do mesmo nome, de 2002.

Jane Birkin era oficial da Ordem do Império Britânico. Em França, era comendadora da Ordem das Artes e Letras. Mas recusou a Legião de Honra em 1989, por considerar que "apenas os heróis" são merecedores de tal honra. Uma forma de homenagear a memória do seu pai David, um oficial da Marinha britânica que transportou integrantes da resistência do Reino Unido para França durante a Segunda Guerra Mundial. Ele faleceu em 1991, no dia do funeral de Serge Gainsbourg.