O terramoto do movimento #MeToo continua no cinema francês, com novas acusações de abuso sexual contra os realizadores Benoît Jacquot e Jacques Doillon, considerados herdeiros da Nouvelle Vague (Nova Vaga).
A atriz Judith Godrèche, hoje com 51 anos, acusa Jacquot de violação de vulnerável e de a ter submetido a um relacionamento abusivo após se conhecerem quando ela estava a começar a sua carreira.
Godrèche foi selecionada, aos 14 anos, para participar no filme "Les Mendiants" ("Os Mendigos", em tradução literal), rodado em Portugal, e no qual estava sem nenhum adulto a acompanhá-la.
Rapidamente iniciou uma relação com o cineasta que durou seis anos e terminou no início da década de 1990.
Nas páginas do jornal Le Monde, a atriz detalha este relacionamento e descreve um homem obcecado por adolescentes e dominador.
Jacquot nega ter abusado de alguma atriz na sua longa carreira e apenas reconhece, em entrevistas, ser um homem de caráter temperamental.
Nos últimos meses, as acusações de Godrèche intensificaram-se nas redes sociais, tal como aconteceu com outras denúncias que surgem regularmente no cinema e no teatro, a grande maioria de jovens atrizes ou trabalhadores do setor contra realizadores (Luc Besson, Nicolas Bedos... ) ou atores (Gérard Depardieu).
Godrèche apresentou uma queixa formal na terça-feira (6). No entanto, segundo fontes judiciais, esta acusação pode ter prescrito por causa do tempo decorrido em relação ao incidente.
Nova acusação
Esta quinta-feira (8), a atriz ampliou as suas queixas, agora contra o realizador Jacques Doillon, atualmente com 79 anos.
Com ele filmou "La fille de 15 ans" ("A Rapariga de Quinze Anos"), lançado em 1989, quando tinha 15 anos e ainda era parceira de Benoît Jacquot.
Segundo relata Godrèche numa entrevista à rádio France Inter, a atriz Jane Birkin, então companheira de Doillon, assistiu a uma cena de alegado abuso. O realizador teria pedido à atriz que tirasse o soutien para depois interpretar uma cena sexual com ele.
Uma fonte próxima do caso contou à France-Presse (AFP) que o Ministério Público de Paris está a investigar ambas as queixas.
Com 77 anos, Benoît Jacquot é autor de uma extensa filmografia e já dirigiu grandes nomes do cinema francês como Isabelle Huppert, Charlotte Gainsbourg e Léa Seydoux, com títulos como "L'école de la chair" (1998),"Sade" (2000), "Adeus, Minha Rainha" (2012), "3 Corações" (2014), "Diário de Uma Criada de Quarto" (2015) e "Eva" (2018).
Em 2010 trabalhou com outra jovem atriz, Isild Le Besco, em "Au fond des bois" ("No fundo da floresta", em tradução literal), que também descreveu ao Le Monde uma relação possessiva com o realizador.
Jacques Doillon, por sua vez, tem trinta filmes no seu currículo, com destaque para o premiado "Ponette" (1996) e "La drôlesse" (1979), "A Pirata" (1984), "O Pequeno Criminoso" (1990), "Le jeune Werther" (1993), "Ponette" (1996) e, mais recentemente, "O Casamento a Três" (2010) e "Rodin" (2017).
A sua advogada, Marie Dosé, declarou à AFP que o realizador rejeita "veementemente" as acusações e que "espera poder explicar-se em tribunal o mais rapidamente possível".
Tanto Jacquot quanto Doillon são conhecidos por cultivarem narrativas que abordam temas como paixão amorosa ou intelectual.
Outro representante da mesma geração que esteve no centro de polémicas foi Philippe Garrel, de 75 anos.
Há alguns meses, este realizador foi acusado por cinco atrizes de ter tentado beijá-las e feito investidas sexuais em reuniões profissionais. Este minimizou os acontecimentos e pediu desculpas.
O caso mais notório é o do ator Gérard Depardieu, de 75 anos, que foi acusado por várias mulheres e enfrenta uma ação formal por violação desde o final de 2020.
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