Por volta das 21h30, os adeptos da emblemática banda brasileira já começavam a encher o Musicbox Lisboa com olhares que demonstravam uma miscelânea de sentimentos, da ansiedade à alegria, afluindo em fim à pura satisfação ao passar das 22h00 com ‘A Urgência’ (tema de abertura de um dos mais aclamados álbuns da banda brasileira, ‘Zer0 e Um’, de 2004).
Rodrigo Lima (voz), Igor Tsurumaki (baixo), Fausto Oi (guitarra) e André Pastura (bateria) depararam logo no arranque com a casa cheia, tendo o público a pular e a cantar em conjunto. Afinal, foram 32 anos de espera por este momento em Portugal.
No início, Rodrigo mostrou logo ao que veio: “O Bolsonaro vai ser preso… Ele fez o meu país sofrer pra caralho! ‘Fascismo nunca mais’ é a nossa luta!”. E a plenos pulmões, então, ouviu-se na sequência em uníssono os versos de ‘Tão Iguais’: “Eu grito pelo meu país, que finge os absurdos tão normais onde estou. Eu desejei o teu lugar, quis agir da mesma forma… Aqui todos são iguais!”. Rapazes e raparigas deram corpo a essa premissa partilhando o circle pit com uma intensidade absoluta.
Também de ‘Zer0 e Um’, a poderosíssima sequência inicial foi complementada pela tocante ‘Queda Livre’. Aí Lima agradeceu a todos na plateia e contou um pouco de como ele se conectou ao hardcore português, logo nos anos 1990, oferecendo a canção ‘Asfalto’ (extraída do disco ‘Contra Todos’, de 2009) em memória de Rodrigo Barradas (ex-vocalista da banda portuguesa X-Acto), além de a ter dedicado também à cena local da época num momento de bastante emoção.
‘Oldboy’ (do álbum ‘Um Homem Só’, de 2006), ‘Fragmento’ (de ‘Sonho Médio’, de 1999) e ‘Molotov’ (incluído em ‘Sirva-se’, de 1998) prepararam bem o terreno para o que seria o grande clímax da atuação, que atingiu o seu auge ao som de ‘Zer0 e Um’ (faixa-título do célebre e já citado registo de 2004).
‘Proprietários do Terceiro Mundo’ (de ‘Afasia’, de 2001), ‘Sangue nas Mãos’, ‘Não Termina Assim’ (ambas de ‘Ponto Cego’, de 2019) e ‘Mulheres Negras’ (‘Sonho Médio’) deram andamento ao concerto a todo vapor com direito a sessões frenéticas de mosh.
‘Venceremos’ (de ‘Contra Todos’, dedicada por Rodrigo “a todas as torcidas antifascistas deste planeta”), ‘Escapando’ (‘Sonho Médio’), ‘Vitória’ (tema do álbum que leva o mesmo nome, de 2015) e ‘Contra Todos’ (também do homónimo de 2009) deram o tom na medida e em alto nível do que há de mais pujante na extensa e exímia discografia desta lenda do hardcore brasileiro.
Rodrigo Lima saudou a todos, mais uma vez, e enfatizou a importância daqueles e daquelas que de alguma forma conseguiram manter a sanidade no momento mais desgraçado durante a pandemia.
‘Autonomia’ (ainda de ‘Contra Todos’), ‘Você’ (de ‘Zer0 e Um’) e as clássicas ‘Afasia’ e ‘Sonho Médio‘ (dos respetivos discos homónimos) vieram como brasa para a lenha que colocaria um ponto final nessa performance avassaladora do grupo na sua esplendorosa estreia em território lusitano.
A saideira (como chamamos no Brasil) deu-se com ‘Bem-Vindo Ao Clube’ (dq magnânima obra-prima de 2004, predominante no alinhamento).
A digressão europeia, que passou por Irlanda, Inglaterra e Alemanha, contou ainda com mais uma atuação extra em Lisboa e outra com bilhetes esgotados na reta final, no Hard Club do Porto.
Agradecimento especial ao Edu Santos da Loop Discos
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