Se o novo épico de ficção científica da Netflix de Zack Snyder, “Rebel Moon”, se parece muito com um filme “Star Wars”, é porque foi originalmente apresentado como um.

Desde os seus humildes aldeões numa galáxia distante lutando contra senhores imperiais destruidores de planetas, até às suas espadas superaquecidas e até mesmo o seu título, as semelhanças com a criação de George Lucas são inevitáveis.

Mas quando a proposta de Snyder para a Lucasfilm, há cerca de uma década, não resultou, o cineasta foi em frente e criou o seu próprio universo extenso e cheio de mitologia - algo que agora vê como uma grande bênção.

“Quando descobri que não iria funcionar [na Lucasfilm], a minha esposa e parceira de produção Deborah disse-me: ‘Esta é a melhor notícia que poderias ter recebido’”, recordou.

“O processo de criação deste mundo, embora cansativo e demorado – e a quantidade de detalhes realmente louca – foi incrivelmente gratificante”, disse o realizador de “300” e “Watchmen”.

"Porque dá a capacidade de desconstruir ícones e clichés da ficção científica a que se está habituado", explicou.

O resultado é talvez o passo mais audacioso até agora numa carreira extremamente popular, embora divisiva, que viu Snyder refazer o clássico de 'zombies' "Zombie - A Maldição dos Mortos-Vivos" (1978), que passou a "O Renascer dos Mortos", e reformular radicalmente super-heróis amados como o Super-Homem e Batman em filmes como "Homem de Aço" e "Liga da Justiça".

"Rebel Moon" é uma aposta rara de mais de 160 milhões de dólares em algo novo, numa era em que Hollywood depende cada vez mais de marcas e franquias estabelecidas - conhecidas como "propriedade intelectual" ou "IP".

“A faca de dois gumes da propriedade intelectual é que, por um lado, é familiar, todos sabem o que é”, diz Snyder.

“Por outro lado, é familiar, todos sabem o que é”, brincou com a repetição.

Os atores, a partir da esquerda: Cleopatra Coleman, Michiel Huisman, Ed Skrein, Djimon Hounsou, Charlie Hunnam, Sofia Boutella, Staz Nair, Bae Doona, Fra Fee, E. Duffy e Ray Fisher

"Rebel Moon – Parte Um: A Menina do Fogo" será lançado a 22 de dezembro na Netflix, com um segundo a sair em abril do próximo ano.

Acompanha Kora (Sofia Boutella), uma estranha misteriosa que tem um acidente com a sua nave espacial nos confins do universo e descobre-se a defender os pacíficos aldeões que a acolheram do tirânico Império.

Ela e o ingénuo agricultor Gunnar (Michiel Huisman) juntam uma equipa de combatentes, desde rebeldes teimosos até um mercenário arrogante (Charlie Hunnam) que possui uma nave espacial veloz e valoriza a sua própria segurança e fortuna acima do destino da rebelião.

Se algumas destas personagens parecem familiares, os membros do elenco insistem que estão muito, muito distantes de uma certa galáxia conhecida.

“Não acho que alguém tenha dito as palavras ‘Star’ e ‘Wars’ na rodagem”, diz Ed Skrein, que interpreta o vilão, o Almirante Atticus Noble. "Nunca mencionámos isso", garante.

Snyder desenvolveu histórias detalhadas para cada personagem, planeta e até mesmo para a maquinaria das naves espaciais.

Os cineastas criaram três linguagens únicas para as diversas culturas e credos do seu universo.

“Ficou muito claro para nós desde o início que Zack tinha todo este mundo e este universo que queria criar, no qual vinha trabalhando há décadas”, diz Huisman.

"Este é um novo original. Este é o novo mundo de Zack", reforça.

Zack Snyder com Charlie Hunnam e Ray Porter na rodagem

Uma forma marcante pela qual “Rebel Moon” difere de “Star Wars” é o seu tom mais adulto, com violência e sexualidade espetaculares.

Uma das primeiras cenas passa-se num bordel vividamente imaginado.

Estes temas terão ainda mais destaque numa “versão do realizador” a ser lançada no próximo verão.

“Neste momento, na versão atual, é mais uma textura de perigo ou um elemento exótico”, diz Snyder.

“Na versão do realizador, isso é muito central. Na verdade, é disso que se trata”, esclarece.

Ed Skrein como Atticus Noble

A Netflix já anunciou um videojogo complementar e uma história em BD e um filme de animação também estão em andamento.

A esperança de Snyder é que a franquia possa assumir uma vida própria, assim como aconteceu com a de Lucas.

“O meu sonho, por um lado, é acompanhar a história até o fim. Essa é a principal coisa que me motiva”, diz.

“Sinto que há todo um universo de histórias em BD que gostaria de criar para este mundo.

"A minha esperança é que seja algo inesgotável", conclui.

TRAILER LEGENDADO.