Baseado no bem-sucedido romance da escritora americana Lionel Shriver,
«We Need to Talk About Kevin» explora a ambivalente relação entre Eva, que talvez não desejasse ser mãe, e o seu filho Kevin, muito mimado e que, ao que parece, nasceu com instintos ruins.
A história começa durante uma «tomatada» em algum lugar da Espanha, na época em que Eva - interpretada pela britânica
Tilda Swinton, oscarizada como Melhor Actriz Secundária em 2008 por
«Michael Clayton» - era uma escritora viajante, solteira e sem compromissos.
A partir dessa «tomatada» violenta e sensual, a cor vermelha domina o filme e prefigura o sangue que será derramado por Kevin, interpretado pelo talentoso Ezra Miller, na sua escola de Connecticut, poucos dias antes de completar 16 anos.
«Ficaria com muito medo de ser amigo de alguém como Kevin. O mal vive dentro das pessoas, devemos saber que somos capazes do bem e do mal», declarou
Ezra Miller.
O argumento, co-escrito por
Lynne Ramsay e pelo seu companheiro, o músico
Rory Stewart Kinnear, possui uma estrutura complexa, algo desarticulada, tal como um pesadelo, apresentando a época anterior e posterior ao massacre cometido por Kevin, que o espectador não verá, como costuma ocorrer na tragédia grega, «onde se fala da violência, mas não se mostra».
«Todo o filme trata da culpa da mãe. É ela a culpada pela violência de seu filho? É uma história de família. Algo muito trágico. Um pesadelo», afirma a realizadora.
«A cor vermelha domina desde o início porque eu vejo os filmes na minha cabeça, antes de escrever o argumento, sou visual», declarou Lynne Ramsay, cuja curta-metragem de fim de estudos, «Small Deaths», ganhou em 1996 o prémio do júri em Cannes.
«O nosso filme não trata, como
«Elephant», de
Gus Van Sant, do massacre numa escola, e sim de uma família, é sobre as relações entre mãe e filho», explicou, por sua vez, o argumentista Stewart Kinnear.
«Kevin cresce numa família de classe média norte-americana. Tem tudo o que quer, mas acredita que não tem um lugar no mundo. É muito inteligente e pensa que os seus pais interpretam o papel de pais, que estão a actuar, que não são sinceros», disse, por sua vez, Tilda Swinton.
A actriz falou da sua maneira de encarnar a personagem de Eva, que se sente desconcertada e perdida desde o nascimento de Kevin, um menino muito chorão e depois autista, violento, grosseiro.
«Quando uma pessoa tem um filho sente-se às vezes como se estivesse a escrever uma carta que nunca lhe enviará. A vida torna-se complicada. Uma mãe sente-se às vezes isolada com o seu bebé. É difícil ser mãe, sobretudo de uma criança como o Kevin», acrescentou Tilda Swinton.
Lynne Ramsay insistiu que o que mais queria era mostrar a ambivalência da atitude de Eva diante de seu filho. «Ela não é uma mãe má nem boa. Interessava-me que o espectador visse todos os tons de cinza. No livro de Lionel Shriver, uma pessoa pode ler nas entrelinhas, também é que desejo também com minhas imagens», disse.
Tilda Swinton reconheceu que a história de Kevin tem muito a ver «com a violência que domina o mundo, onde este tipo de tragédias ocorre frequentemente: os pais criam e alimentam seus filhos que depois os superam em altura e se voltam contra eles».
«We Need to Talk About Kevin» é um dos 20 filmes que competem pela Palma de Ouro em Cannes.
SAPO/AFP
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