A festejar os 85 anos esta quarta-feira, reformado da carreira como ator e praticamente retirado da vida pública, Robert Redford foi um dos rostos masculinos mais marcantes das décadas de 1960 a 1980, mas conseguiu ultrapassar a condição de menino-bonito de Hollywood e estabelecer-se como um dos principais nomes da Sétima Arte.
Fê-lo apostando em filmes arriscados e politicamente empenhados, associando-se a causas liberais, apoiando o cinema independente e fazendo carreira como realizador de prestígio.
Um caso raro de ícone romântico, admirado em igual medida por homens e mulheres, ainda não foi há muitos anos que dava cartas no cinema, tanto em "blockbusters" elogiados como "Capitão América: Soldado do Inverno" (2014) e "A Lenda do Dragão" (2016), como em filmes cinematograficamente arrojados, como "Quando Tudo Está Perdido" (2013), onde era o único ator em cena e pelo qual recebeu algumas das críticas mais entusiasmadas da sua carreira.
O mesmo aconteceu em 2018 com "Nós, ao Anoitecer", produção Netflix onde reencontrou Jane Fonda, parceira de vários filmes.
Nascido na Califórnia em 1936, Redford jogou basebol no liceu, estudou pintura e acabou por optar pelas Artes Dramáticas. Participou em várias séries de televisão mas teve o seu primeiro grande sucesso no teatro, em 1963, na peça "Descalços no Parque" de Neil Simon.
Começou no cinema num papel secundário em 1962 com "War Hunt" mas saltou logo em 1965 para papéis de co-protagonista com "O Estranho Mundo de Daisy Clover", logo aí uma proposta arriscada já que interpreta uma estrela de cinema bissexual.
A partir daí nunca mais parou, com interpretações muito elogiadas em filmes de sucesso como "Dois Homens e Um Destino", "As Brancas Montanha da Morte", "O Nosso Amor de ontem", "A Golpada", "Os Três Dias do Condor", "Os Homens do Presidente" e "África Minha".
Passando para trás das câmaras, começou a carreira de realizador com o pé direito, ao assinar o drama "Gente Vulgar", em que não participa como ator e que lhe valeu o Óscar de Melhor Realização, o único do seu currículo ganho em competição (ganhou um Óscar honorário em 2002 pelo conjunto da carreira).
Subsequentemente, manteve um percurso de realizador com sucesso nos filmes "O Segredo de Milagro", "Duas Vidas e Rio", "Quiz Show", "O Encantador de Cavalos", "A Lenda de Bagger Vance", "Peões em Jogo", "A Conspiradora" e "Regra de Silêncio".
Mas o seu maior motivo de orgulho, costumava dizer, é a criação em 1981 do Sundance Institute, para aspirantes a cineastas, que assumiria em 1985 o controlo de um festival de cinema já existente no Utah e o transformaria no mais importante certame do mundo dedicado ao cinema independente, o Festival de Sundance.
No verão de 2018, acompanhando a chegada de "O Cavalheiro com Arma", Robert Redford causou bastante impacto mediático ao anunciar o fim da sua carreira como ator, tencionando apenas focar-se no trabalho atrás das câmaras como realizador.
Também com os vencedores dos Óscares Casey Affleck e Sissy Spacek, o filme centrava-se num vigarista cuja carreira a assaltar bancos e sucessivas fugas da prisão, mesmo depois dos 60 anos, deixaram as autoridades "às aranhas" e fascinaram o público.
"Nunca digas nunca, mas cheguei a conclusão de que isto seria o fim para mim em termos de representação, e que seguiria para a reforma depois disto porque ando a fazê-lo desde os 21 anos. Pensei: 'Bem, já chega'. E por que não concluir com algo que é muito otimista e positivo?", explicava numa entrevista à revista Entertainment Weekly (EW).
Mais tarde, penalizou-se na antestreia pelas declarações por estarem a desviar as atenções: "Isso foi um erro. Nunca devia ter dito isso. Se me vou reformar, devia ter-me simplesmente afastado silenciosamente, mas não devia estar a falar disso porque penso que chama demasiado a atenção de uma forma errada. Quero que esteja focada no filme e no elenco".
Pressionado para clarificar se era mesmo o último filme, respondeu a rir que era melhor manter o mistério e anúncios de reforma devem evitar-se "porque nunca temos a certeza".
Certo é que se seguiu precisamente esse afastamento silencioso. As últimas aparições formais foram em homenagens nos Prémios César (França) e no festival de Marraqueche em 2019, o mesmo ano em que despediu do habitual papel como "rosto público" de Sundance, aparecendo pela última vez na conferência de imprensa de abertura do festival.
Para preservar o legado, também vendeu em 2020 a Sundance Mountain Resort, uma estância que comprou e ajudou a desenvolver a partir de 1961.
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