De acordo com declarações à imprensa da sua enteada, Leslie Gimbel, o realizador
Sidney Lumet morreu na manhã de hoje, 9 de Abril, aos 86 anos, na sua casa em Manhattan, vítima de um linfoma. Lumet foi um dos primeiros realizadores a efectuar uma transição bem sucedida da televisão para o cinema (como mais tarde fariam John Frankenheimer,
Robert Altman ou
Steven Spielberg), onde se destacou em filmes de teor marcadamente realista, com temas actuais e fracturantes, um fundo de grande idealismo, e quase sempre com Nova Iorque como pano de fundo.
Sidney Lumet nasceu em Filadélfia, em 1924, filho de profissionais do teatro, e desde criança esteve envolvido no mundo da Broadway como actor, antes de ser chamado para combater na Segunda Guerra Mundial. No pós-Guerra, envolveu-se com o Actor's Studio, criou uma companhia Off-Broadway e em 1950 estreou-se como realizador nos primórdios da televisão. Sete anos depois de dirigir incontáveis horas de emissões televisivas, realizou o seu primeiro filme, um dos mais notáveis e memoráveis da sua carreira:
«12 Homens em Fúria».
Protagonizada por
Henry Fonda, a película era adaptada de uma peça teatral que surgiu de um argumento televisivo, e tinha a particularidade da acção decorrer totalmente numa mesma sala e em tempo real. Ficariam já aqui assinaladas as principais marcas do trabalho de Lumet: excelente direcção de actores, primorosa capacidade de adaptar obras teatrais ao grande ecrã e um olhar idealista e analítico sobre temas candentes na sociedade. O filme foi nomeado para os Óscares de melhor Filme, Argumento Adaptado e Realização, a primeira das suas cinco nomeações à estatueta dourada.
Sem deixar a televisão, Lumet prosseguiu carreira no cinema, muitas vezes com adaptações elogiadas de peças teatrais com elencos de luxo:
«Lágrimas da Ribalta» (1958) baseia-se na peça de Zoe Akins,
«O Homem na Pele da Serpente» (1959) é feito a partir de
Tennessee Williams,
«Do Alto da Ponte» (1961) é adaptado de
Arthur Miller, ou
«Longa Viagem para a Noite» (1962) recria a peça de Eugene O'Neill.
Muito prolífico, realiza de seguida três filmes que dariam que falar:
«O Agiota» (1965), a primeira fita norte-americana a tratar o Holocausto do ponto de vista de um sobrevivente,
«Missão Suicida» (1965), sobre a crise nuclear (de que
George Clooney produziria um elogiado remake televisivo em 2000), e
«A Colina Maldita», num prisão britânica no Norte de África durante a Segunda Guerra Mundial.
A década de ouro da sua carreira é a de 70, principalmente o início, com uma sucessão de êxitos de crítica e bilheteira, que ficaram na memória colectiva e geraram intensa discussão:
«O Dossier Anderson» (1971),
«A Sevícia» (1972),
«Serpico» (1973),
«Um Crime no Expresso do Oriente» (1974),
«Um Dia de Cão» (1975, segunda nomeação ao Óscar) e
«Network - Escândalo na TV» (1976, terceira nomeação ao Óscar).
Sem afastar o divertimento (em 1977 realiza uma versão musical negra de «O Feiticeiro de Oz»,
«The Wiz», com
Diane Ross e
Michael Jackson), Lumet continua a década de 80 a ter nos filmes de discussão social os que mais atenção lhe valeram:
«O Príncipe da Cidade» (1981, nomeação ao Óscar de Melhor Argumento),
«O Veredicto» (1982, quinta e última nomeação ao Óscar) e
«Daniel» (1983).
A partir daí os projectos importantes continuaram, com estrelas de primeira grandeza, mas sem a mesma atenção mediática. Destacam-se
«Fuga sem Fim» (1988),
«Negócio de Família» (1988),
«Inquérito Escaldante» (1990),
«Gloria» (1999) e, mais recentemente,
«Mafioso quanto Baste...» (2006) e
«Antes que o Diabo Saiba que Morreste» (2007).
Em 2005, recebeu finalmente o tão adiado reconhecimento da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, com um Óscar honorário.
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