Mais de 20 anos após
Arnold Schwarzenegger ter ido a Marte no «blockbuster» de
Paul Verhoeven
«Desafio Total»,
Len Wiseman volta a trazer as aventuras de Doug Quaid ao cinema, agora sem sair da Terra e com
Colin Farrell no papel principal, ao lado de
Kate Beckinsale e
Jessica Biel. A história baseia-se mais no filme de 1990 que na história original de Phillip K.Dick, algo que o criador da série
«Underworld» não tem qualquer problema em assumir.
«Remake» do filme ou nova adaptação do livro?
«Na verdade, o novo
«Desafio Total» é uma combinação das duas coisas, e também foi isso que me chamou a atenção neste argumento. É um «remake» num certo sentido, mas a melhor descrição é que é um «remake» da premissa do primeiro filme, já que o ponto de partida é familiar mas depois a história segue numa direção diferente. Eu tinha a minha própria experiência de ver o «Desafio Total» aos 14 ou 15 anos, e só depois, já na faculdade, é que li o livro, que teve um impacto diferente em mim em termos de tom, já que era mais perigoso e sombrio e não se prestava nada àquele lado de paródia da fita do Arnold. E eu gostei que o argumento cruzasse o lado sombrio da história com a vertente espectacular do filme, foi também essa combinação bizarra que me atraiu ao projeto.»
O porquê de um «remake»
«Confesso, com toda a franqueza, que entrei com muita hesitação neste projeto, até com a convicção que não o deveria fazer, porque adoro o filme original. Inicialmente, li o argumento porque queria muito trabalhar com o [produtor] Neal H. Moritz e o pessoal da Sony, de quem gostava muito, e fiquei tão surpreendido que me rendi ao desafio. O argumento era excepcional, e o facto do protagonista não ir a Marte surpreendeu-me ainda mais, porque eu não conseguia adivinhar em que direção é que a história iria. Fiquei agarrado e não consegui parar de ler até chegar ao fim, e eu adoro essa sensação.»
Trabalhar com a esposa Kate Beckinsale
«Foi muito divertido colocar a Kate, pela primeira vez, no papel de vilã. Ela própria me disse que é muito mais divertido tentar destruir o mundo do que salvá-lo. Foi muito libertador. E claro que é mais fácil trabalhar com alguém que se conhece bem, atalha-se caminho numa série de coisas, não se passa o filme inteiro a descobrir a pessoa para saber como lidar com ela e extrair o que ela tem de melhor.»
A criação do futuro
«Adoraria poder dizer que me rodeei de imensos cientistas para juntos decidirmos qual o futuro mais provável e transpôr isso para o filme. Mas não, o final do século XXI do «Desafio Total» saiu da minha imaginação, e da dos argumentistas. O que eu mais adoro no cinema é poder criar mundos e isso faz parte da razão pela qual entrei para esta profissão. Adoro fazer pesquisa sozinho e depois criar os mundos de raiz.»
A Terra no final do século XXI
«O nosso mundo tem muitas camadas. Como já não se pode construir para os lados, tem de se construir para cima, por isso ao longo de 100 anos foram-se criando várias camadas de cidade, o que quer dizer que o próprio trânsito também funciona em vários patamares, com ímanes nos carros para poder explicar como é que uns circulam acima dos outros. O objetivo naquela sociedade é condensar o máximo espaço possível, por isso circula-se acima e abaixo da autoestrada.»
O planeta quase inabitável de «Desafio Total»
«O planeta Terra na nossa versão do «Desafio Total» é diferente do do filme original. Aqui, cerca de 70% do mundo está inabitável e tóxico, e o que resta da população tem de se refugiar nas únicas duas zonas habitáveis, uma área do Reino Unido e outra da Austrália. E como está tudo junto, a sociedade é uma mistura das mais variadas populações, com influências arquitetónicas dos pontos mais díspares. E como no nosso mundo nem é possível voar, o único transporte possível entre os dois pontos habitáveis do planeta é uma espécie de elevador que atravessa o centro da Terra. É algo de visualmente muito diferente. Até a própria agência Rekall é diferente da do primeiro filme, em que parecia uma agência de viagens: agora é bastante mais um spa zen.»
A diferença em relação a «Underworld»
«Os universos de «Underworld» e de «Desafio Total» são muito diferentes, até mesmo na forma como eu lido mentalmente com eles. O primeiro tem um lado de terror mais acentuado, integra-se num género mais específico, é mais fantástico, e o segundo é mais realista, mesmo sendo de ficção científica, o tom é muito mais sombrio.»
As expetativas de «Desafio Total»
«Claro que as expetativas nos filmes «Underworld» são diferentes que as que surgem na sequela do «Die Hard» ou neste «remake» do «Desafio Total», mas o problema para mim continua a ser o mesmo: como fazer algo que o espectador nunca tenha visto? Em relação à comparação com o original, toda a gente tem uma ideia sobre o que deve ser um «remake», uns acham que deve ser totalmente igual, outros totalmente diferente, é impossível agradar a todos os porque as expetativas de cada pessoa são diferentes. Aquilo de que eu gostei no filme original quando o vi na adolescência pode não ser aquilo de que as outras pessoas gostaram. A um nível mais básico, acabo por ser um bocado egoísta porque faço os filmes para mim e não penso tanto naquilo que o público vai querer ver. Só posso fazer aquilo que eu gostaria de ir ver e esperar que as pessoas concordem comigo. Por isso, tenho de ser muito honesto: para mim, a única forma de lidar com isso é que quem tiver muito essas preocupações, não deve fazer o filme. Eu tento responder às minhas próprias expetativas, porque é impossível adivinhar o que os fãs querem ou não querem.»
Os novo efeitos especiais
«Os efeitos especiais nunca podem ser um objetivo. Claro que as pessoas me dizem que 20 anos depois do filme original, estamos na altura certa para fazer um «remake» porque podemos melhorar os efeitos visuais, mas isso nunca pode ser a razão para refazer um filme. Os efeitos devem servir a história e a ação, e só são divertidos e credíveis se o fizerem. Neste filme, reinventámos alguns dos elementos clássicos das cenas de ação: por exemplo, cenas de perseguição de automóveis são um clássico e já foram feitas de todas as maneiras, e nós aqui não mudámos a forma como elas são rodadas mas sim o seu envolvimento: um mundo com estradas em várias camadas, umas por cima das outras com os automóveis com ímanes.»
Não perca esta quarta-feira a entrevista do SAPO a Kate Beckinsale, na quinta-feira a conversa com Colin Farrell e na sexta as palavras de Jessica Biel.
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