A caminho dos
Óscares 2023
Realizador de filmes repletos de dança e música, S.S. Rajamouli espera que a sua obra "RRR: Revolta, Rebelião, Revolução" seja a primeira produção 100% indiana a ganhar um Óscar.
"RRR" é uma ficção carregada de ação, efeitos visuais e números musicais sobre dois revolucionários da era colonial.
O filme encantou o público dos EUA ao Japão, quebrou recordes de bilheteira na Índia e está nomeado para o Óscar de Melhor Canção Original, depois de vencer Taylor Swift e Rihanna na mesma categoria nos Globos de Ouro.
Em entrevista à France-Presse, Rajamouli explicou: "Quando vou ao cinema, quero ver personagens exuberantes, situações exuberantes, dramas exuberantes".
O filme em língua telegu tornou-se o maior sucesso de bilheteira da história do cinema indiano.
Esta tem sido uma carta de apresentação do prolífico - embora menos conhecido - cinema do sul da Índia para o mundo.
Bollywood, a indústria indiana de cinema na língua hindi, é reconhecida como a mais produtiva do mundo. Mas os prémios internacionais geralmente são reservados para os filmes em inglês.
Isto mudou quando "Parasitas", do sul-coreano Bong Joon-ho, levou quatro estatuetas douradas em 2020, incluindo os de Melhor Filme e realização.
As únicas obras indianas reconhecidas com um Óscar foram produções em inglês: "Ghandi" (1982) e o britânico "Quem Quer Ser Bilionário?" (2008), ambientado em Mumbai.
Rajamouli espera que um prémio pela cena de dança da canção "Naatu Naatu" abra caminho para outros cineastas indianos.
Filmada à frente do palácio presidencial da Ucrânia antes da guerra, a cena exibe atuações intensas dos dois protagonistas enquanto confrontam o rival do filme.
O realizador indiano de 49 anos afirma: "Estamos abrindo caminho, mas acho que estamos a dar passos muito, muito iniciais".
"Veja, por exemplo, o progresso que a Coreia do Sul teve (...) deveríamos inspirar-nos nisso, todos os cineastas indianos", explicou.
Sem precedentes
Rajamouli nasceu no estado de Karnataka, no sul da Índia. O seu pai era um argumentista que o apresentou à indústria cinematográfica.
As suas primeiras influências foram obras de Hollywood como "Ben-Hur" e "Braveheart". Ele é fã dos realizadores Steven Spielberg e James Cameron.
O cineasta ganhou fama com o drama histórico de ação "Baahubali" (2015), até então a obra audiovisual mais cara produzida na Índia. A produção influenciou uma onda de filmes do sul, que lideraram as bilheteiras poliglotas do país.
A sequela de 2017 teve uma boa receção do público e ambos estão entre os maiores sucessos de bilheteira da história neste país de 1,4 mil milhões de habitantes.
O realizador sente-se "agradavelmente surpreso" com o acolhimento de "RRR" no Ocidente, onde, considera, falta "entretenimento maximalista".
"RRR" está entre os filmes indianos de maior bilheteira nos cinemas dos EUA, apesar de ter entrado para o catálogo da Netflix dois meses depois de estrear em 1.200 cinemas do país em março de 2022.
Foi algo "sem precedentes" e "um caso à parte", destacou o analista da Franchise Entertainment Research, David A. Gross.
Apesar da presença na plataforma de streaming, as salas de cinema permaneceram cheias.
Os filmes de Rajamouli foram comparados aos de super-heróis da Marvel e ele se sentiria honrado se fosse convidado para ficar à frente de um do Universo Cinematográfico.
Nuances preocupantes
Apesar dos elogios, "RRR" tem recebido críticas por algumas nuances preocupantes, como a promoção do nacionalismo hindu e hipermasculinidade.
"RRR" contém mitologia hindu e fervor nacionalista, numa época na qual os cineastas são atacados repetidamente pela direita hindu nas redes sociais.
Defensores dos direitos humanos alertam para as prisões que as estrelas de Bollywood enfrentam sob o governo do primeiro-ministro Narendra Modi, um nacionalista hindu.
Rajamouli cresceu numa família hindu "profundamente religiosa", embora seja ateu e acredite que "a religião é essencialmente exploração".
"Não tenho nenhuma agenda oculta (...) Faço filmes para pessoas dispostas a gastarem o dinheiro que ganham em bilhetes de cinema", acrescentou.
Ele atribui a crítica ao filme à polarização do debate na Índia, que do seu ponto de vista não permite alcançar pontos de convergência.
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