Terror de animação em 3D é o que propõe o realizador português Diogo Costa para a primeira curta-metragem, que está ainda a finalizar e com a qual está no festival de cinema de animação de Annecy, em França.
“No ano passado vim meio à turista a ver como a coisa era. E este ano com a animação portuguesa em destaque, apesar de não ter conseguido ter o meu filme concluído a tempo, queria estar presente”, disse em entrevista à agência Lusa.
Diogo Costa tem 32 anos e vive em Paços de Ferreira, onde trabalha e onde está a terminar a curta-metragem “The Hunt”, que deverá ter estreia ainda este ano no circuito de festivais.
“The Hunt” é um filme 3D de terror, de animação para adultos, e esta combinação de elementos “é muito pouco comum em Portugal”, sendo que começou a ser desenvolvida sem quaisquer apoios financeiros e com o envolvimento 'pro bono' de artistas amigos de várias nacionalidades.
“Eu trabalho na indústria do entretenimento para grandes produções americanas há uns anos. Trabalho como ‘concept artist’, [ou seja] o artista que desenvolve as personagens, os veículos, coisas desse género. […] Juntei uma série de colegas, fiz uns contactos. Era para ser uma coisa pequena, de alguns minutos, mas à medida que a coisa foi avançando e houve o passa palavra, cresceu”, recordou.
A meio do processo, a produtora portuguesa Cola Animation juntou-se ao projeto e “The Hunt” é atualmente uma obra colaborativa entre Portugal, Espanha, Países Baixos e Japão, com a participação de artistas que já passaram, por exemplo, pela série televisiva “Arcane” ou pelo filme “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso”.
“Inicialmente, não houve financiamento. Eu tinha uns trocos de lado, mas era insignificativo para pagar a essas pessoas. O resto foi por troca de favores, pessoal que trabalhou para mim e depois vou trabalhar para eles”, explicou Diogo Costa.
Sobre o facto de terem aceitado trabalhar desta forma, o realizador explicou que “a maioria dos artistas estava interessada em participar em algo cujo único propósito era ser artístico”.
“Na indústria de entretenimento uma coisa que acontece é que a exigência é tão alta e o grau de supervisão é tanto, que a parte criativa é muito destruída. E depois somos artistas que nos queremos expressar de certa maneira, mas temos uma máquina toda a oprimir-nos”, reconheceu.
Diogo Costa tem formação em Engenharia, mas tudo o que sabe sobre animação aprendeu sozinho, a partir de um estúdio em Paços de Ferreira.
“Comecei a fazer isto a sério aos 26 anos. Pode soar estranho, mas resume-se a fazer o meu trabalho, partilhá-lo no sítio certo, como por exemplo [na plataforma] ArtStation. Noventa por cento dos trabalhos que consegui foi assim. A partir do momento em que temos o pé dentro da porta é mais fácil, porque é o passa a palavra”, revelou.
Já trabalhou em ilustração no extenso universo “Guerra das Estrelas” e participou na elaboração de videojogos, mas diz que há contratos de confidencialidade que não lhe permitem adiantar o que anda a fazer.
Diogo Costa disse ainda que as suas aspirações, para já, são terminar “The Hunt” e avançar com o próximo projeto, mas “um ego muito grande” fá-lo querer ganhar “muitos Óscares daqui a uns anos”.
“Este mundo é uma coisa que demora mesmo muito tempo, é um percurso de anos até conseguirmos ter uma carreira minimamente estável”, reconheceu.
Em Annecy, contou que o próximo filme será também de terror, 3D, e aborda a relação das pessoas com a Internet, com as redes sociais, é sobre, de forma alegórica, o poder abusivo de vigilância das empresas.
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