Em 1996, o realizador David Cronenberg viu a sessão do seu novo filme "Crash" no Festival de Cannes ser recebida com vaias e outras manifestações de revolta por parte de espectadores chocados com a história sobre a obsessão muito especial de um grupo de pessoas pelo potencial erótico dos desastres de viação e das suas sequelas físicas.
O filme controverso e provocatório viria a receber o prémio especial do júri e desde então não deixa ninguém indiferente.
Com este memória bem presente, Cronenberg já antecipa a receção no festival mais importante do mundo ao seu "Crimes of the Future", o seu primeiro filme em oito anos e que vai estar na corrida à Palma de Ouro.
Com o luso-guineense Welket Bungué, ao lado de Viggo Mortensen, Léa Seydoux e Kristen Stewart, a história decorre num futuro próximo onde não existe dor e as transferências sangrentas de órgãos são uma nova forma de entretenimento.
"Há algumas cenas muito fortes. Isto é, tenho certeza que teremos pessoas a sair nos primeiros cinco minutos do filme. Tenho certeza disso. Algumas pessoas que viram o filme disseram que acham que os últimos 20 minutos serão muito difíceis para as pessoas e que haverá muitas saídas. Um tipo disse que quase teve um ataque de pânico. [...] Mas não estou convencido de que essa será uma reação geral", contou o cineasta canadiano à publicação Deadline.
"Espero saídas em Cannes e isso é uma coisa muito especial. [Risos] Há sempre pessoas a saírem e os assentos notoriamente estalam quando você se levanta, porque os assentos dobram e batem na parte de trás. Portanto, ouve-se 'clack, clack, clack'. Acho que não ficarão indignadas como foi com o 'Crash'. Podem sentir repulsa ao ponto de quererem sair, mas isso não é o mesmo que ficar indignado. Mas realmente não faço ideia do que vai acontecer", continuou.
O realizador garante que não está nervoso e mal pode esperar pela sessão para ver qual a reação das pessoas, porque é para isso que se fazem os filmes.
"Já o disse muitas vezes: não estou a fazer um filme para chocar as pessoas ou agredi-las. Estou a dizer: 'Estas são coisas em que reparei. São ideias que tive. Estes são sonhos que me perturbaram. Estou a mostrar-vos. Podem interpretá-los como quiserem. Apenas acho que talvez estejam interessadas em experimentar estas coisas como eu as experimentei", recordou.
"Esta é a minha abordagem e obtêm-se uma enorme variedade de respostas. Agora, realmente não penso que teremos uma experiência 'Crash'. Por um lado, realmente não há sexo no filme. Quer dizer, há erotismo e sensualidade, mas é claro que parte do que o filme diz – e um dos personagens diz isso de forma bem direta – é que a cirurgia é o novo sexo. Se você aceitar isso, então, sim, há sexo no filme, porque há cirurgia! Portanto, as pessoas podem ser desencorajadas por isso", esclareceu.
"Crimes of the Future" estreia nos EUA no início de junho e ainda não foi anunciado oficialmente o seu lançamento em Portugal.
Comentários