Numa grande entrevista publicada esta quarta-feira, Meryl Streep diz que Dustin Hoffman "passou dos limites" durante a rodagem do filme "Kramer Contra Kramer" (1979).
Tudo aconteceu no segundo dia de rodagem e numa cena que seria um dos momentos-chave: Joanna diz ao marido que o vai deixar e sai do apartamento para apanhar o elevador.
O que aconteceu faz parte da lenda de Hollywood e foi recuperado há pouco tempo quando o ator começou a ser envolvido nos escândalos de assédio sexual: Dustin Hoffman não quis confiar apenas ao talento de "inexperiente" Meryl Streep a representação da angústia de Joanna e antes das câmaras começarem a rodar, deu-lhe uma grande bofetada. A marca vermelha é perfeitamente visível nas cópias com mais definição do filme.
O relato está numa grande reportagem de 2016 da Vanity Fair: o momento gelou todos os que estavam no local, mas Hoffman não se ficou por aí e usou outras táticas, improvisando diálogos sobre a vida pessoal dela que faziam referência a um namorado que tinha morrido há pouco tempo de cancro.
Ela ficou "absolutamente branca", mas aguentou as provocações e fez a cena. O filme valeu-lhe o primeiro dos três Óscares da carreira.
A atriz recordou o que aconteceu ao The New York Times: "Isto é complicado porque como somos atores, quando estamos numa cena, temos de nos sentir livres. Tenho a certeza que magoei pessoas inadvertidamente em cenas físicas. Mas existe uma certa parte de desculpabilização nisso. Mas este era o meu primeiro filme e era a minha primeira gravação no meu primeiro filme e ele simplesmente deu-me uma bofetada. Que pode ser vista no filme. Foi passar dos limites."
"Mas acho que estas coisas estão a ser corrigidas neste momento. E não são politicamente corretas; foram corrigidas. Serão corrigidas porque as pessoas não as vão tolerar mais.", acrescentou.
Em relação aos escândalos sexuais que atingiram Hollywood e que acabaram por a atingir por ter feito vários filmes com o produtor Harvey Weinstein, a atriz manteve que não sabia de nada.
"Fazemos filmes. Pensamos que sabemos de tudo sobre toda a gente. Tanta bisbilhotice. Não sabemos de nada. As pessoas são tão impenetráveis a um determinado nível. E é um choque. Algumas das minhas pessoas preferidas vieram abaixo por causa disto e [Weinstein] não é uma delas.", garantiu.
Sem querer entrar em pormenores, Streep assumiu que foi assediada quando era uma jovem atriz.
"Antigamente, quando toda a gente andava na cocaína, houve muito comportamento horroroso que foi indesculpável. Mas agora essas pessoas são mais velhas, e mais sóbrias, tem de se saber perdoar, e é isso que sinto sobre isso.", recordou, antes de acrescentar: "Fui realmente muito mal tratada, mas não quero destruir a vida madura de alguém. Simplesmente não quero. Acho que se é para o mundo continuar, devemos descobrir uma maneira de trabalhar juntos e perceber isso é melhor para os homens se eles nos respeitarem profundamente como iguais".
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