A caminho dos
Óscares 2021
Entre as várias experiências feitas na cerimónia dos Óscares a 25 de abril, a maior e a que se revelou mais controversa terá sido a de terminar com o anúncio do Melhor Ator e não Melhor Filme.
No rescaldo, tudo indicava que a Academia e os produtores Steven Soderbergh, Stacey Sher e Jesse Collins (os dois primeiros foram, respetivamente, o realizador e produtora do filme "Contágio") estavam certamente a contar que o falecido Chadwick Boseman ganhasse por "Ma Rainey: A Mãe do Blues" e a sua viúva subisse ao palco para fazer mais um discurso emotivo, como aconteceu noutras cerimónias.
Só que o "tiro saiu pela culatra" quando Joaquin Phoenix anunciou que a estatueta ia para Anthony Hopkins por "O Pai".
O final acabou por ser anticlimático e pouco "cinematográfico": não houve discurso de agradecimento e a cerimónia acabou a correr e sem o seu habitual ponto alto de entusiasmo porque o ator de 83 anos estava num hotel no País de Gales a dormir depois de não o deixarem participar por zoom.
Pouco mais de uma semana depois da grande noite de cinema, Soderbergh explicou a decisão de não terminar com o Óscar de Melhor Filme.
“Falámos sobre isso em janeiro. É nossa convicção - que acho que não é infundada - que os discursos dos atores têm tendência para ser mais dramáticos do que os dos produtores. E pensámos que seria divertido misturar as coisas, especialmente se as pessoas não soubessem que isso ia acontecer. Portanto, isso fez parte do plano", revelou ao jornal Los Angeles Times.
Tomada a decisão de não terminar com Melhor Filme, o produtor e realizador diz que Melhor Ator se tornou inevitável quando as nomeações a 15 de março confirmaram a possibilidade de Chadwick Boseman ganhar a título póstumo.
"A nossa impressão era que se ele vencesse e a viúva falasse em seu nome, não haveria forma de continuar depois disso", reconheceu.
Questionado se acharam que ele ia ganhar, a resposta é subtil: "Não foi termos partido desse princípio, mas a necessidade de levar em conta que poderia acontecer. Aquilo teria sido um momento tão devastador que voltar a seguir teria sido simplesmente impossível."
A decisão de evitar um final anticlimático acabou por falhar com o anúncio de Anthony Hopkins, mas Soderbergh não se mostra arrependido de não terem permitido a utilização do zoom.
Em relação às reações negativas pela falta de imagens e montagens dos filmes, recorda-se o contexto: "é preciso perceber que esta cerimónia foi encarada por nós e pela Academia como uma oportunidade de experimentar coisas realmente diferentes. E o entendimento sempre foi [de que] haverá algumas coisas que funcionam e algumas coisas que não funcionam, coisas que as pessoas gostam e não gostam. É essa a intenção".
"O objetivo foi sempre fazer algo diferente e deixar a Academia analisar a resposta e decidir o que fazer ao seguir em frente. Mas devo dizer que todos - a Academia, o canal [ABC], todos - se mostraram muito favoráveis a todas as ações criativas que tomámos", acrescentou.
Sobre o que gostaria que futuros produtores aproveitassem do que foi feito este ano, Soderbergh destacou a apresentação das histórias sobre o percurso dos nomeados.
"Acho que isso faz a indústria assentar em alguma forma de realidade e deixa claro às pessoas que a maioria dos que trabalham não vem de Los Angeles e Nova Iorque, não tem ligações com a indústria do entretenimento e que não existe uma barreira entre os atores e a equipa técnica, que estão todos a trabalhar juntos. E que a experiência de fazer um filme não está num plano à parte, como penso que algumas pessoas acreditam", concluiu.
Comentários