A discussão começou quando Zoe Saldana foi anunciada em 2012 como a protagonista de "Nina", um 'biopic' sobre a vida da artista Nina Simone, principalmente quando surgiram fotografias da atriz, de origem dominicana e porto-riquenha, com maquilhagem para escurecer a pele e uma prótese nasal.
O lançamento do primeiro trailer e poster no início de março aumentou a controvérsia, com acusações particularmente sensíveis de 'blackface' – numa referência aos atores que, em meados do século XIX, pintavam a cara de preto e representavam estereótipos de negros –, alegadamente perpetuando o "branqueamento de Hollywood", quando o trabalho de Nina Simone se centrava na sua identidade física como uma mulher negra nos EUA.
Escrito e realizado por Cynthia Mort, o filme promete focar-se na sua carreira enquanto cantora e no ativismo político, nomeadamente o período em que viveu na França, onde faleceu em 2003.
Ao lado de Saldana está David Oyelewo("Selma") como o seu assistente e mais tarde empresário Clifton Henderson.
Desde o início que a escolha da atriz foi recebida com desaprovação por fãs e membros da família de Simone.
A filha da cantora, Lisa Simone Kelly, chegou a declarar ao New York Times que "a minha mãe foi criada numa altura em que lhe disseram que o seu nariz era muito largo, a sua pele demasiado negra. Em termos de aparência, esta não foi a melhor escolha".
Mais tarde, acrescentou que tinha visto alguns dos filmes de Zoe Saldana mais do que uma vez e respeitava o seu processo como atriz, mas que sabia que "existem muitas atrizes por aí, conhecidas ou não, que seriam excelentes como a minha mãe", nomeadamente Kimberly Elise ou Viola Davis.
"Ambas as que mencionei são mulheres de cor, são mulheres com lábios bonitos e voluptuosos e narizes largos, e que são talentosas. Também não tenho qualquer problema com apresentar alguém de quem nunca ouvimos falar".
Saldana, por seu lado, já afirmou no passado que se sentia desconfortável por discutir o tema porque não foi criada para ver cor e que a quantidade de criticismo que ia receber não era importante. "Vou honrar e respeitar a minha comunidade negra porque é isso que eu sou".
Mas o verniz estalou completamente quando a estrela publicou a 2 de março no seu Twitter uma citação de Nina Simone – "Vou dizer-lhe o que é para mim a liberdade - Não ter medo... Quero mesmo dizer, nenhum medo" – e alguém ligado à gestão do legado da cantora pediu na mesma rede social “por favor tire o nome de Nina da boca. Para o resto da sua vida”.
O comentário brutal recebeu tanta amplitude na comunicação social que começaram a surgir as primeiras vozes para defender Zoe Saldana.
"Não me interessa negatividade como essa. É uma coisa horrível para fazer a alguém. Imaginem estar no seu lugar e enfrentar isso. Não é simpático e não é correto", afirmou Paula Patton.
"Claramente, alguém achou que ela era perfeita para aquilo – ela é uma atriz espantosa, ela é linda – e não sequer lhe demos uma oportunidade e nem sequer vimos ainda [o filme]."
"Acho que a Saldana é uma grande atriz, portanto aguardo com expetativa. Ela é de descendência africana – não vejo qualquer razão para não interpretar o papel. Simplesmente quero ver. Deixem passar esta campanha e vamos ver um filme", afirmou Queen Latifah.
A própria filha de Nina Simone acabou por vir pôr água na fervura.
"É lamentável que Zoe Saldana esteja a ser atacada de forma tão brutal quando ela faz parte de algo maior. Claramente ela trouxe o seu melhor ao projeto, mas infelizmente está a ser atacada quando ela não é responsável por nada no argumento ou nas mentiras".
Lisa Simone Kelly, que não sabe quem fez o ataque à atriz no Twitter, levanta agora objeções com a decisão da realizadora Cynthia Mort de mostrar uma relação romântica "que nunca existiu" com o assistente pessoal Clifton Henderson, que seria homossexual.
"Claramente [o filme] não é a verdade sobre a vida da minha mãe e agora toda a gente sabe isso. Esta não é a forma como queremos que os nossos entes queridos sejam recordados."
"Nina" estreia nas salas de cinema nos EUA e em VOD a 22 de abril.
Trailer de "Nina".
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