A atriz Laura Soveral, que morreu hoje, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, vítima de Esclerose Lateral Amiotrófica, doou o seu corpo à ciência, pelo que não haverá cerimónias fúnebres, disse à Lusa a filha da atriz, Paula Soveral.
Laura Soveral "fez hoje, às 00:15, a sua passagem", vítima de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Num ato de humildade e generosidade, próprio de uma mulher 'muito à frente do seu tempo', doou o corpo à ciência pelo que não haverá cerimónias fúnebres", acrescentou a filha da atriz num comunicado enviado à agência Lusa.
A família da atriz agradece todos os pensamentos de paz, luz e amor que possam ser enviados em sua memória e, por considerar que o "o espírito não morre, é eterno", no âmbito das filosofias orientais, apela a que o espírito de "Laura renasça em breve, para mais uma jornada luminosa".
Laura Soveral nasceu em 23 de março de 1933, na cidade de Benguela, Angola, e somou vários prémios pelo trabalho como atriz, em particular no cinema e no teatro, embora também tenha feito ficção para televisão, em Portugal e no Brasil.
Fixou-se em Lisboa, nos anos de 1960, onde frequentou Filologia Germânica, na Faculdade de Letras, e a Escola de Teatro do Conservatório Nacional, tendo enveredado pela representação.
Estreou-se como atriz, em 1964, no Grupo Fernando Pessoa, dirigido por João d’Ávila.
"Estrada da Vida", file de Henrique Campos, valeu a Laura Soveral, em 1968, o Prémio de Melhor Atriz de Cinema, do então Secretariado Nacional de Informação (SNI), e o Prémio Bordalo, da Casa da Imprensa.
Colaborou na televisão, em Portugal e no Brasil.
Primeiro, na RTP, nos anos de 1960 e primeira metade da década de 1970, somam-se as participações no programa Hospital das Letras, de David Mourão-Ferreira, Zip Zip, de Raul Solnado, Fialho Gouveia e Carlos Cruz, mas também o trabalho como atriz em produções dramáticas como "O Homem Multiplicado", "Celimena", "Pedro, o Cru", dirigida por Herlander Peyroteo, ou nas "As Preciosas Ridículas", de Jorge Listopad.
Em 1966, entrou na série "Sete Pecados Mortais", escrita por Olavo d'Eça Leal e Costa Ferreira, em 1969, protagonizou "As Cartas de Soror Mariana", de Peyroteo, que também a dirigiu em "A Cantora careca", de Ionesco. Em 1975, entrou na série "Angústia para o Jantar", sobre a obra de Luís de Stau-Monteiro, com realização de Jaime Silva.
"Os Putos", "Um Táxi na Cidade", "Chuva na Areia", "Os Melhores Anos", "A Viúva do Enforcado", "Fúria de Viver", "Morangos com Açúcar", "Liberdade 21", a nova versão de "Vila Faia" estão entre as produções televisivas em que participou, desde a década de 1980. A telenovela "Belmonte", emitida pela TVI, em 2014, foi a última em que participou, como elemento do elenco regular.
No Brasil, onde se fixou na década de 1970, entrou nas telenovelas "O Casarão" e "Duas Vidas", da Rede Globo.
Nos palcos, trabalhou com companhias como Teatro da Cornucópia, Teatro Experimental de Cascais, Novo Grupo/Teatro Aberto e A Barraca, e participou em encenações como "O avarento", "A Casa de Bernarda Alba", "O processo de Kafka", "D. Quixote" e "Primavera Negra".
Em 2013, entrou em “O Público”, sobre textos de Federico García Lorca, com encenação de António Pires, numa produção do Teatro São Luiz com o Teatro do Bairro, em Lisboa.
Laura Soveral foi também um dos rostos do Novo Cinema português, ao protagonizar "Uma abelha na chuva", de Fernando Lopes, em 1972, realizador com quem voltaria a filmar, em “Matar Saudades”, em 1988, e na adaptação do romance de José Cardoso Pires "O Delfim", em 2002.
Da atriz destacam-se também as atuações nos filmes "A Divina Comédia", "Francisca" e "Vale Abraão", todos de Manoel de Oliveira, “Aqui na Terra”, "Corte do Norte", "Tráfico" e "A Mulher que Acreditava Ser Presidente dos EUA", de João Botelho, "Adeus, Pai", de Luís Filipe Rocha, "Quaresma", de José Álvaro Morais, entre cerca de três dezenas de produções.
Mais recentemente, Laura Soveral entrou em "Tabu", filme de Miguel Gomes, "Aristides Sousa Mendes - O Cônsul de Bordéus", de Francisco Manso e João Corrêa, "Cadências Obstinadas", de Fanny Ardant, e "Filme do Desassossego" e “Os Maias - Cenas da Vida Romântica”, de João Botelho.
A Academia Portuguesa de Cinema distinguiu-a com o prémio de carreira, em 2013, e com o Prémio Bárbara Virgínia, de homenagem a mulheres do cinema português, em 2017.
Nesta altura, a academia disse que Laura Soveral representa "um extraordinário exemplo de determinação e profissionalismo para gerações futuras".
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