Marcelo Rebelo de Sousa
O Presidente da República disse hoje que jamais serão esquecidas as personagens interpretadas por Laura Soveral, nem o seu papel no cinema, numa reação à morte da atriz, ocorrida hoje de madrugada, em Lisboa.
"Não esqueceremos as personagens que nos deixou, altivas como a Maria Prazeres de 'Uma Abelha na Chuva', comoventes como a Aurora de 'Tabu', porque foi em Laura Soveral que os nossos cineastas pensaram, quando quiseram que o cinema português fosse moderno", afirma Marcelo Rebelo de Sousa, na mensagem de pesar publicada no 'site' da Presidência da República.
A atriz Laura Soveral "fica sobretudo como presença fundamental do cinema português, em 'Uma Abelha na Chuva', de Fernando Lopes, e em 'Tabu', de Miguel Gomes, mas também em 'Francisca' ou 'Vale Abraão', de Manoel de Oliveira", escreve Marcelo Rebelo de Sousa, que lembra igualmente a participação da atriz nos filmes de José Fonseca e Costa, José Álvaro Morais, João Botelho e Teresa Villaverde.
O Presidente da República recorda ainda a interpretação de atriz em textos de Kafka e de Arthur Miller, com o Grupo de Ação Teatral, no Teatro Villaret, em 1970/71, e sua versatilidade, assinalada desde o início da carreira, com os prémios de Melhor Atriz de Cinema e com o Prémio Bordalo da Casa da Imprensa, em Teatro.
Miguel Gomes
O realizador Miguel Gomes sublinhou a “enorme versatilidade” e a “elasticidade inacreditável” de Laura Soveral, afirmando sentir já “saudades” da atriz com quem trabalhou apenas uma vez, há sete anos, quando realizou o filme “Tabu”.
“Sinto já saudades dela”, afirmou Miguel Gomes à agência Lusa. “Era uma atriz incrível”, de uma “enorme versatilidade”, com uma grande capacidade para “mudar de registo de um momento para o outro”, “num piscar de olhos”, salientou o realizador.
Para Miguel Gomes, Laura Soveral “tinha uma elasticidade inacreditável; era quase como uma atleta de ginástica”, frisou.
“Como atriz, o que era espantoso é que as coisas lhe saíam com uma naturalidade incrível. Parecia que não tinha medo de nada”, sublinhou.
Miguel Gomes recordou vários momentos que viveu com a atriz quando realizou “Tabu” (2012) e sublinhou que na altura a tratava de “rainha branca”.
“Porque havia sempre nela qualquer coisa de aristocrático”, acrescentou.
Ao referir que há cerca de três meses trocou mensagens com a atriz quando esta já se encontrava doente, a propósito de memórias de quando trabalharam juntos, o realizador disse estar convicto de que terem tido a oportunidade de trabalharem juntos "foi um grande orgulho para ambos".
Paulo Trancoso
O presidente da Academia Portuguesa de Cinema lamentou hoje a morte da atriz Laura Soveral, sublinhando que a artista dedicou toda a vida à interpretação", no cinema e no teatro.
Contactado pela agência Lusa, o produtor comentou que a notícia deixou "muito triste" a Academia Portuguesa de Cinema, já que Laura Soveral era um membro honorário "muito especial".
Paulo Trancoso recordou que a Academia tinha galardoado a atriz, em 2013, com o Prémio Carreira, e, há dois anos, o Prémio Bárbara Virgínia, que distingue uma mulher do cinema português.
"Era um membro muito especial da Academia, e, portanto, sentimos muito o seu falecimento. Trabalhou com muitos realizadores de cinema, tanto jovens como mais antigos", desde António-Pedro Vasconcelos, a Manoel de Oliveira e João Botelho.
Lembrou ainda que foi das primeiras atrizes a trabalhar numa novela brasileira, na Globo, em "O Casarão", em 1976.
Conheceu-a pessoalmente na série que produziu, intitulada "A Viúva do Enforcado": "Logo aí percebi a atriz excecional que era, com uma calma muito especial, com uma grande tranquilidade nas suas interpretações".
"Tanto no cinema como na televisão, ela foi uma atriz de destaque", salientou o produtor, finalizando: "É uma vida de interpretação que nos deixa".
Glória de Matos
A atriz Glória de Mattos, que foi amiga e contracenou várias vezes com Laura Soveral, destacou “a excelente profissional, muito bem preparada e segura”, que foi também “uma boa esposa”, referindo-se ao seu segundo casamento com José Maria Caetano, de quem teve três filhos.
“A memória que guardo da Laura é a de uma trabalhadora, era de facto uma trabalhadora, dedicava-se àquilo que fazia”, disse Glória de Mattos, que contracenou com Laura Soveral na Casa da Comédia, sob a direção de Fernando Amado (1899-1968), e mais tarde na televisão, designadamente na telenovela “Vila Faia”, na RTP.
Glória de Matos referiu ainda terem trabalhado juntas num programa com o apresentador Artur Agostinho (1920-2011), no início dos anos, "Curto-Circuito", gravado no Teatro Monumental), que sucedeu a "Zip-Zip", envolvendo o cineasta Fernando Lopes, que era dos quadros da RTP, o produtor Baptista Rosa e autores como Alexandre O’Neill, Joaquim Letria e Luís Villas-Boas.
“Era uma mulher que gostava muito de teatro, que gostava muito do que fazia e fazia-o o melhor que sabia e que podia", disse em declarações à Lusa.
António Pires
O encenador António Pires, que foi o último a dirigir em teatro a atriz Laura Soveral, destacou “a pessoa sábia e dedicada” que era, e que “trouxe inteligência” ao processo criativo da encenação.
Laura Soveral fez parte do elenco de “O Público”, de Federico García Lorca, encenado por António Pires em 2013.
O encenador disse à agência Lusa que “já há muito tempo que conhecia” atriz, até porque ambas as famílias são originárias de Benguela, no sul de Angola.
“Era uma pessoa muito sábia e fácil de trabalhar, dedicada, e muito agradável no relacionamento, até fora do palco”, disse.
Laura Soveral era “inteligente e culta e transmitia uma grande calma”, acrescentou.
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