O ator francês Michel Piccoli morreu aos 94 anos, confirmou a sua família à AFP.
O ator, a quem a agência de notícias francesa chama “monumento do cinema francês”, morreu “a 12 de maio nos braços da mulher, Ludivine, e dos seus filhos Inord e Missia, após um derrame cerebral”, refere a família de Michel Piccoli, num comunicado citado pela AFP.
A sua carreira passou pelo cinema (mais de 150 filmes) e teatro ao longo de oito décadas, desde o final dos anos 40 até 2015.
Nos palcos, foi dirigido por grandes nomes, como Peter Brook, Patrice Chéreau e Luc Bondy. No grande ecrã trabalhou com cineastas como Jean-Luc Godard, Luis Bunuel, Jean Renoir, Jacques Rivette, Jean-Pierre Melville, Alfred Hitchcock, Nanni Moretti e Manoel de Oliveira.
Nascido a 27 de dezembro de 1925 em Paris, Piccoli definiu os seus pais como "músicos sem paixão", que "serviram como antimodelo". Essa família, que descreveu como "egoísta e racista", provavelmente pesou na sua rejeição da burguesia.
Na sua juventude, fez cursos de teatro e fez a sua estreia no cinema em "Le point du jour", de Louis Daquin (1949).
Antes, em 1945, então com 20 anos, conheceu Jean-Paul Sartre e a artista Juliette Gréco - com quem se casou em 1966. Na mesma época entrou no Partido Comunista.
O compromisso com a esquerda manteve-se até o fim, inclusive publicamente, apoiando, por exemplo, candidatos presidenciais como o socialista François Mitterrand em 1981.
Discreto sobre a sua vida privada, Piccoli, casou-se três vezes, confessou aos 90 anos num livro de entrevistas com Gilles Jacob, seu amigo e ex-presidente do Festival de Cannes.
Entre papéis como protagonista ou secundários de exceção, destacam-se vários clássicos ou títulos populares na sua época como "French Can can (1955, Jean Renoir), "Rendez-vous" (1961, Jean Delannoy), "O Denunciante" (1962, Jean-Pierre Melville), "O Desprezo" (1963, Jean-Luc Godard), "Diário de Uma Criada de Quarto" (1964, Luis Bunuel), "Páginas Íntimas" (1966, Agnès Varda), "As Donzelas de Rochefort" (1967, Jacques Demy), "A Bela de Dia" (1968, Luis Bunuel), "Diabolik" (1968, Mario Bava), "Topázio" (1969, Alfred Hitchcock), "O Estranho Caso do Inspector Max" (1971, Claude Sautet), "A Audiência" (1972, Marco Ferreri), “O Charme Discreto da Burguesia” (1972, Luis Bunuel), "A Grande Farra" (1973, Marco Ferreri), "Núpcias Vermelhas" (1973, Claude Chabrol), "Os Inseparáveis" (1974, Claude Sautet), "Entre Duas Mulheres" (1976, Claude Sautet), "Jogadas Perigosas" (1984, Richard Dembo), "Os Malucos de Maio" (1990, Louis Malle), "Marta e Eu" (1990, Jirí Weiss), "A Bela Impertinente" (1991, Jacques Rivette), "Compagna di viaggio" (1996, Peter Del Monte), "Genealogias de um Crime" (1997, Raoul Ruiz) e "Sous les toits de Paris" (2007, Hiner Saleem) e "Não Toquem no Machado" (2007, Jacques Rivette).
Da vasta filmografia fazem parte obras do realizador português Manoel de Oliveira, como "Party" (1996), “Vou para casa” (2001), "Espelho Mágico" (2005) e “Belle Toujours” (2006), este último uma sequela de "A Bela de Dia".
O seu último papel central foi em "Habemus Papam - Temos Papa" (2011, Nanni Moretti), como o papa melancólico que sonha em tornar-se anónimo.
Os Prémios César, os "Óscares franceses", nomearam-no por quatro vezes, mas nunca ganhou. Porém, recebeu a distinção de Melhor Ator no Festival de Cannes por "Salto no Vazio" (1980, Marco Bellocchio), e o Urso de Prata do Festival de Berlim por "Une étrange affaire" (1981, Pierre Granier-Deferre).
Experimentou a realização com uma das curtas de "Contre l'oubli" (1991). Outra curta foi "Train de nuit (1994) e seguiram-se as longas-metragens "E Então" (1997), "La plage noire" (2001) e "C'est pas tout à fait la vie dont j'avais rêvé" (2005), todas co-produzidas por Paulo Branco.
“Linhas de Wellington” (2012, Valeria Sarmiento), "Holy Motors" (2012, Leos Carax) e "Vocês ainda Não Viram Nada!" (2012, Alain Resnais), estão entre os seus derradeiros trabalhos no cinema.
(*) Atualizado às 16h30 com mais dados biográficos.
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