O ator Jean-Louis Trintignant faleceu esta sexta-feira aos 91 anos.
Grande nome do cinema e do teatro francês, o ator faleceu "serenamente, de velhice, esta manhã em casa, cercado pelos seus entes queridos", anunciou em comunicado a sua mulher, Mariane Hoepfner Trintignant, através do agente.
Não foi revelada a causa da morte, mas sabia-se que sofria de cancro há vários anos.
Numa carreira de sete décadas e cerca de 130 filmes, destacam-se na carreira do ator tímido e discreto alguns dos grandes momentos do cinema europeu desde os anos 1950, de cineastas como Roger Vadim, Valerio Zurlini, Dino Risi, Claude Lelouch, Costa-Gavras, Éric Rohmer, Bernardo Bertolucci, Luigi Comencini, Claude Berri, François Truffaut, Régis Wargnier, Krzysztof Kieslowski, Jacques Audiard, Patrice Chéreau e Michael Haneke: "E Deus Criou a Mulher" (1956); "Um Verão Violento" (1959); "A Ultrapassagem" (1962); "Um Homem e Uma Mulher" (1966); "O Homem que Mente" (1968); "O Grande Silêncio" (1968); "Z - A Orgia do Poder" (1969); "A Minha Noite em Casa de Maud" (1969); "O Conformista" (1970); "Deserto dos Tártaros" (1976); "O Terraço" (1980); "Finalmente, Domingo!" (1983); "La femme de ma vie" (1986); "Três Cores: Vermelho" (1994); "Fiesta" (1995); "Quem Me Amar Irá de Comboio" (1998) e "Amor" (2012).
Apesar de ter anunciado a sua reforma do cinema em 2017, regressou dois anos mais tarde para a despedida com "Os Melhores Anos da Nossa Vida", sequela de "Um Homem e Uma Mulher" e "Um Homem e Uma Mulher: 20 Anos Depois", todos realizados por Claude Lelouch e contracenando com Anouk Aimée.
O primeiro filme, uma história de amor que se tornou um dos maiores sucessos do cinema francês da década de 1960, venceu a Palma de Ouro de Cannes e dois Óscares: o papel de piloto de corridas (uma paixão da vida real) tornou-o uma estrela de cinema internacional.
A sua vida foi atingida pela tragédia da morte de duas filhas, Pauline, ainda bebé, e Marie, espancada até à morte pelo seu companheiro Bertrand Cantat, a estrela de rock vocalista da banda Noir Desir, em 2003.
"Ele acompanhou as nossas vidas através do cinema francês. É uma página que se vira num talento e uma voz artística maravilhosos", destacou o presidente francês Emmanuel Macron após ser informado da sua morte durante uma visita a uma conferência de tecnologia em Paris.
Traidores, marginais e bandidos
Melhor Ator em Cannes, em 1969, por “Z - A Orgia do Poder”, de Costa-Gavras, pelo papel de um investigador que tenta descobrir a verdade do assassinato de um político de esquerda durante a ditadura na Grécia ao mesmo tempo que agentes governamentais procuram eliminar todas as pistas, Trintignant foi cinco vezes nomeado para os prémios César do cinema francês, que só conquistou em 2013 com “Amor”, de Michael Haneke, representando um octogenário cujo amor pela esposa (Emmanuelle Riva) é testado após esta sofrer um derrame.
A mesma obra, que integrou múltiplas listas de melhores do ano, ganhou a Palma de Ouro em Cannes e foi nomeada para cinco Óscares, tendo conquistado o de melhor filme em língua estrangeira, valeu-lhe o prémio de melhor ator europeu em 2012.
Apesar do seu sucesso no ecrã, Trintignant era conhecido por dizer que preferia o teatro.
"Poderia ter passado toda a minha vida a fazer teatro", disse numa entrevista em 2017, acrescentando: "Mas o cinema paga melhor!"
Trintignant continuou a participar em corridas após lançar a carreira ao lado de Brigitte Bardot em "E Deus Criou a Mulher", de 1956.
A partir daí, passou a ser visto como um dos atores mais talentosos da geração do pós-guerra, interpretando uma série de traidores, marginais e bandidos, ou personagens ambíguas e pervertidas.
O ator também recusou a ceder à amargura pela morte da sua filha marie e até perdoou Cantat, quando muitos não o conseguiram fazer.
Trintignant casou três vezes: com a atriz Stephane Audran; a cinesta Nadine Marquand, com quem teve três filhos (Marie, Pauline e Vincent) e Mariane Hoepfner, uma antiga piloto de corridas como ele.
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