Um dos filmes mais esperados do ano acaba de ter a sua primeira apresentação mundial no Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy, o maior do género no mundo:
«Monstros: A Universidade» funciona como prequela do já clássico «Monstros e Companhia», a quarta longa-metragem da Pixar, e reuniu uma multidão de interessados nas duas sessões que se fizeram no evento, uma delas a de abertura oficial.
O filme, que marca a estreia na realização de longas-metragens de Dan Scanlon, recua ao período em que os futuros melhores amigos Mike e Sully se conhecem na faculdade dos monstros. Só que em vez da química ser imediata e a amizade florescer num ápice, os dois começam por detestar-se a sério, de tal forma são criaturas completamente opostas uma da outra: Mike Wazowski é pequeno, ultra-disciplinado e gozado por toda a gente e o felpudo James P. Sullivan é grande, incapaz de se esforçar e muitíssimo popular. Circunstâncias várias levam-nos a pertencer à mesma fraternidade, formada pelos «nerds» da universidade, com os quais formam a equipa que terá de vencer o troféu dos mais assustadores do campus. Caso percam, que é o mais provável tendo em conta a equipa, a penalização para Mike e Sully é a expulsão da faculdade.
«Monstros: A Universidade» mantém a altíssima tradição de qualidade da Pixar, tecnicamente sem falhas e com um argumento à prova bala. O único senão é a comparação com o primeiro filme: sem a presença da pequenina Boo, a ternura que tanto fez para o sucesso da fita original não se encontra por aqui na mesma dose. Encontra-se, porém, na curta que antece a película,
«The Blue Umbrella», de Saschka Unseld, uma história de amor entre dois chapéus de chuva, que muita gente considera já como possível candidato ao Óscar.
Além do novo filme da Pixar, o dia foi marcado pela projeção de um documentário muito antecipado,
«Persistence of Vision», de Kevin Schreck, sobre «o melhor filme de animação nunca feito». Estamos a falar do já mítico «The Thief and the Cobbler», em que
Richard Williams trabalhou durante três décadas, e que nunca chegou a ver a luz do dia tal como ele tinha imaginado.
Williams é considerado um dos melhores animadores do mundo, o autor daquele que é hoje o mais importante livro de técnica de animação, «The Animator's Survival Kit», realizador de centenas de anúncios, oscarizado pela curta-metragem «A Christmas Carol» e o responsável pelas cenas de animação do clássico
«Quem Tramou Roger Rabbit», que lhe valeu outra estatueta dourada.
Williams começou a trabalhar no filme em 1964 tencionando fazer dele a sua obra-prima e trabalhando nele com a sua equipa nos intervalos dos seus projetos comerciais. Problemas sucessivos de financiamentos, direitos de autor e lentidão excessiva devido ao perfecionismo do realizador, levaram ao adiamento sucessivo do fim do projeto. Na sequência do sucesso de «Roger Rabbit», Williams ainda teve amplo financiamento da Warner Bros para terminar o filme, mas com isso veio uma condicionante: caso o «deadline» não fosse cumprido, Williams perderia o controlo do filme. Foi isso que sucedeu e «The Thief and the Cobbler» chegaria completamente truncado às salas em 1995, com o nome de «Arabian Knight», e passaria completamente despercebido.
Entretanto, circulam hoje cópias feitas por fãs que tentam restituir a dignidade ao filme, mas ainda assim o percurso de «The Thief and the Cobbler» é uma das maiores tragédias da história da animação, tal é a convicção de todos os que nele trabalharam ou com ele contactaram, que estaria ali uma das maiores obras-primas do cinema animado. Williams nunca mais quis falar sobre o filme e recusou um depoimento para este documentário, que acaba por deixar em aberto se, com o seu perfeccionismo sem limites, alguma vez a fita chegaria a ser terminada.
Comentários