Foi filmado depressa com um orçamento limitado, com atores desconhecidos vestindo as mesmas roupas encharcadas de suor durante semans a fio.
Portanto, se "Massacre no Texas" tivesse desaparecido sem deixar vestígios, muitas pessoas não teriam ficado surpreendidas.
Em vez disso, está a festejar este ano o seu 50.º aniversário, meio século em que tem sido a referência para um subgénero de terror – o 'Slasher'.
"Não há nenhum canto do mundo onde se possa ir e dizer o título "Texas Chainsaw Massacre" e ninguém saber do que é que está a falar, quer tenha visto o filme ou não", disse à France-Presse (AFP) Chase Andersen, da Exurbia Films, que detém os direitos da saga.
"Tornou-se parte da nomenclatura moderna. É tão americano como a torta de maçã", garante.
Só que não é o tipo de torta de maçã que a avó fazia.
Em 1974, o realizador Tobe Hooper encontrou uma fórmula que inspiraria inúmeros imitadores: um grupo despreocupado de jovens depara-se com uma uma casa isolada ocupada por um lunático mascarado que começa a cortá-los com coisas afiadas.
Leatherface - o lunático - empunha uma serra elétrica e um martelo com efeitos devastadores, cortando um homem enquanto ele está sentado na sua cadeira de rodas, estripando outro enquanto uma jovem observa do gancho onde ele a pendurou, e esmagando a cabeça ainda de outro.
“Sabe, o Michael Myers ('Halloween') usa uma máscara, o Jason (“Sexta-Feira 13”) usa uma máscara. isto é, Leatherface foi o primeiro tipo a fazê-lo”, recorda Josh Hazard, que se juntou com outros fãs do terror para assinalar o fim de semana "Texas Frightmare".
"Realmente abriu um precedente sobre como onde iriam os filmes de terror", acrescentou.
Definir um género
Se agora é óbvio que "Massacre no Texas" foi algo especial, não parecia assim na época.
O ator Ed Neal, cuja aparição precoce como um tipo de olhos arregalados que apanha boleia pressagia a violência que está por chegar, disse à AFP que não parecia um projeto que definisse o género.
"Eles chegam e dão-me o argumento. E digo: 'Saiam daqui para fora com isto'", recorda.
"Pensei, 'Bem, jamais alguém irá vê-lo'. E aqui estamos", nota.
Tal como “Baby Reindeer”, o recente sucesso boca a boca da Netflix, "Massacre no Texas" afirma, logo no início, basear-se em factos verídicos.
Algumas audiências realmente acreditaram nisso, diz Neal, que afirma que alguns fãs japoneses pensaram que era um documentário.
“Pensaram que eram imagens a sério. 'Como é que eles colocaram çá a câmara? Não comeram o tipo da câmara?' Respondi, 'Sim, provavelmente sim'", diz..
"Cheirava realmente mal"
A saga “Massacre” multiplicou-se nas últimas cinco décadas, com prequelas, sequelas, novas versões e até jogos de computador.
Ainda assim, a maioria dos fãs concorda que o lançamento de Leatherface em 1974 está no topo do ranking.
"Até hoje não existe outro filme como '"Massacre no Texas"'", disse Ronnie Hobbs, da Gun Interactive, que no ano passado lançou um videojogo baseado no filme.
“Mesmo as sequelas e nenhuma das novas versões conseguem captar aquela ousadia e desconforto do original”,defende.
Talvez parte disso se deva à produção básica, diz Andersen, da Exurbia Films.
“Com um orçamento apertado... tiveram de ser realmente criativos. Não podiam dar-se ao luxo de ter vários adereços ou guarda-roupa”, nota.
“Um exemplo perfeito seria Gunnar Hansen quando interpretou Leatherface. Teve que usar o mesmo traje durante toda a rodagem e, no final, cheirava realmente muito mal”, esclarece.
Teri McMinn, que interpretou uma das vítimas do Leatherface, disse que as imagens criativas do filme e a sua relativa falta de derramamento de sangue real - a maior parte da violência é insinuada, não vista - significam que ela está orgulhosa do seu papel na história do cinema.
“Este especificamente está no Museu de Arte Moderna”, diz, referindo-se à instituição nova-iorquina que também terá uma exposição de uma semana sobre o filme em agosto.
Uma parte do trabalho de câmara entrou no folclore cinematográfico como verdadeira arte – uma tomada de ângulo baixo que segue a sua personagem enquanto anda até à casa dos horrores.
Na altura, o verdadeiro terror para McMinn não era o sangue, mas o lugar de destaque do seu traseiro no grande ecrã.
A rir, diz: “Vi pela primeira vez e pensei, 'Oh, meu Deus'. Foi em CinemaScope e Technicolor e estou petrificada que a minha mãe e minha tia o iriam ver".
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