Macau vai receber, de 3 a 12 de fevereiro, o primeiro festival de cinema dedicado à comunidade LGBTQIA+, mas aberto a todos, “mesmo os homofóbicos”, numa cidade subtilmente conservadora, disse o organizador.
O Festival Internacional de Cinema 'Queer' de Macau (MIQFF, na sigla em inglês) “tem tudo a ver com direitos, tão simples como isso”, disse à Lusa o diretor do festival, organizado pela Visão 'Queer' e pela Comuna de Han-Ian.
“Porque é que o tópico LGBTQIA+ [sigla para lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, 'queer', intersexo e assexual] tem de ser escondido ou não mencionado por completo?” questionou Jay Sun.
O festival vai exibir 12 longas-metragens, incluindo "Will-o’-the-Wisp" ["Fogo-Fátuo"], um musical do realizador português João Pedro Rodrigues, selecionado para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cinema de Cannes em 2022.
Os bilhetes para o filme surpresa, "Will You Look At Me" ["Olha Para Mim"], um documentário do chinês Huang Shuli escolhido para a semana da crítica do Festival de Cinema de Cannes 2022, já estão esgotados.
“Claro que temos um alvo, a comunidade LGBTQIA+, mas não queremos limitar nada, porque é isso que significa ser 'queer'. Damos as boas-vindas a todos, mesmo os homofóbicos”, sublinhou Jay Sun.
“Em todos os países há grupos assim e em Macau também. Mas eu não os vejo como meus inimigos. São bem-vindos para vir aprender mais e talvez depois nos possamos entender melhor uns aos outros”, disse o jovem, de 26 anos.
“As pessoas de Macau são mais subtis do que em outras cidades ou países. São conservadoras, mas quando encontram alguém de quem não gostam, também não dizem nada em público. Não é como em Hong Kong ou Taiwan, em que haverá pessoas a sair às ruas em protesto”, considerou.
Taiwan é o único território da Ásia a reconhecer, desde 2019, a reconhecer uniões entre pessoas do mesmo sexo. Leong Chin-fai, um residente de Macau, casou-se em agosto de 2021 em Taiwan com um taiwanês, depois de uma batalha jurídica.
Além das longas-metragens, o festival vai exibir cinco curtas, quatro das quais de realizadores de Macau, incluindo "I’m Here" ("Estou Aqui"), de Tracy Choi Ian Sin.
“É mesmo muito importante, especialmente para os jovens”, a comunidade LGBTQIA+ estar representada nos ecrãs, disse Choi à Lusa.
“Quando tinha 17 ou 18 anos, era difícil identificar-me porque na maioria dos filmes e programas de televisão asiáticos pouco se fala de LGBTQIA+”, lamentou a realizadora.
Revelar a orientação sexual “é muito difícil aqui em Macau, porque nem toda a gente tem pais com uma mentalidade aberta”, lamentou Jay Sun.
A pressão familiar é ainda maior para os homossexuais, disse Tracy Choi. “Na sociedade chinesa, os homens têm de ter filhos para manter o nome de família e se não for suficientemente masculino as pessoas vão gozar contigo”, acrescentou.
“Ninguém tem de vir a público dizer que é lésbica, ou gay, ou bissexual, isso é com eles e ninguém tem nada a ver com isso”, sublinhou Jay Sun.
“O mais importante é ter confiança em nós próprios, que somos belos e que não há nada de errado connosco. Só isso já chega para o nosso festival, relembrar às pessoas que ser 'queer' não é um problema, não é um pecado”, disse o diretor.
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