A "sabotagem" da Cultura pelo Governo brasileiro, presidido por Jair Bolsonaro, está a causar estragos no cinema do país, lamentou esta quarta-feira o realizador brasileiro Kleber Mendonça, em Cannes, onde é membro do júri para a seleção oficial.
Vencedor do Prémio do Júri em Cannes com “Bacurau”, em 2019, o próprio cineasta também esteve presente na seleção em 2016 com “Aquarius”.
Na ocasião, aproveitou a passadeira vermelha para protestar contra o processo de destituição contra a ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff, que classifica como "um golpe".
“No Brasil temos uma sabotagem do sistema de apoio à Cultura. O apoio à Cultura faz parte da Constituição brasileira. Isso começou depois do golpe (...) e com a entrada desse Presidente [Bolsonaro, em 2019] as coisas ficaram ainda mais agressivas”, disse, em entrevista à agência France-Presse (AFP).
Denunciando os cortes no orçamento do setor, Mendonça deplora em particular o encerramento da Cinemateca de São Paulo há mais de um ano.
“Nem sei como falar disso ... É como se hoje o Brasil não tivesse acesso ao seu álbum de família. A Cinemateca não é só um depósito, é um lugar vivo com a memória do país", disse.
“No Brasil temos 300 mil trabalhadores na Cultura. Conheço pessoas que estavam a sustentar-se com a cultura - iluminação, figurinos - e hoje estão a trabalhar na Uber [motoristas]. É muito triste", lamentou.
Questionado sobre o funcionamento dos nove membros do júri, sob a presidência do realizador norte-americano Spike Lee, Mendonça explicou que falava com ele "a cada dois dias, a cada lançamento de quatro ou cinco filmes".
“Spike Lee é um artista ciente de tudo e os diálogos que temos tido têm sido todos muito democráticos, francos e bem-humorados", detalhou o brasileiro.
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