Como sobreviver num mundo recheado de "conteúdo" onde o cinema já não ocupa o topo da hierarquia social e cultural, a frequência das salas de cinema não recuperou do impacto da pandemia e Hollywood, cada vez mais dominada pelas filosofias de Silicon Valley, é afetada por maus e dispendiosos filmes que se tornam penosos fracassos comerciais?

Estes são temas debatidos recorrentemente dentro e fora de Hollywood, mas James Gunn, realizador, argumentista e um dos presidentes executivos da DC Studios, sabe qual é a principal razão para o atual estado da indústria.

"Pode-se fazer tudo como deve ser e sair um mau filme. Tenho muita compaixão pelas pessoas que se dedicam ao máximo a um filme", disse à revista Rolling Stone o realizador dos filmes "Guardiões da Galáxia" e do ainda inédito "Superman".

E recordou a sua experiência: "Conheço alguns dos que foram os meus antigos colegas na Marvel — pessoas que fizeram alguns dos piores filmes. Havia pessoas que eram preguiçosas e não se dedicavam. E havia outros realizadores que trabalharam bastante e talvez não tenham lançado o melhor filme, mas fizeram tudo o que podiam".

"Mas acredito que a razão para Hollywood estar a morrer não é porque as pessoas não querem ver filmes [nos cinemas]. Não é porque os ecrãs em casa se tornaram tão bons. A principal razão é porque andam a fazer filmes sem um argumento fechado", defendeu.

Quando Gunn se tornou líder da DC Studios com Peter Safran, garantiu que os filmes de super-heróis sob a sua supervisão não teriam luz verde para entrar em produção até que os argumentos estivessem finalizados.

Agora, admitiu à Rolling Stone que o seu estúdio acabou de cancelar um projeto por essa mesma razão. Não o identificou.

"Todos queriam fazer o filme. Estava aprovado, pronto para seguir. O argumento não estava pronto. E não podia fazer um filme onde o argumento não fosse bom", resumiu.

A Disney já admitiu que teve um impacto negativo no Universo Cinematográfico Marvel o aumento da produção após o lançamento da plataforma Disney+. Já James Gunn diz que não tem essa exigência corporativa por parte do estúdio Warner Bros.

"Não foi justo. Não estava certo. E matou-os. Temos que tratar cada projeto como se tivéssemos sorte. Não temos a obrigação de ter uma certa quantidade de filmes e séries de TV todos os anos. Portanto, vamos lançar tudo o que achamos ser da mais elevada qualidade. Obviamente, faremos algumas coisas boas e outras nem tanto, mas esperamos que, em média, tudo seja da mais elevada qualidade possível. Nada acontece antes de haver um argumento com o qual eu, pessoalmente, esteja satisfeito”, disse.

"Superman" chega aos cinemas portugueses a 10 de julho.

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