Em abril do ano passado, foi anunciado que Helen Mirren iria ser a protagonista de um "biopic" sobre Golda Meir (1898-1978), a icónica (e ainda única) Primeira-Ministra de Israel.

Na realização de "Golda" está o israelita Guy Nattiv, que ganhou um Óscar pela curta-metragem "Skin" (2018), que inspiraria a seguir o filme pelo qual é mais conhecido internacionalmente, "Skin - História Proibida" (2018), com Jamie Bell.

HELEN MIRREN COMO GOLDA MEIR.

Mas a vencedora do Óscar por "A Rainha" (2006) descende de ingleses e russos, sem ascendência judaica, o que gerou alguma polémica nas redes sociais, principalmente após a também atriz britânica Maureen Lipman ter comparado o 'casting' a "Jewface" [uma alusão à prática de "Blackface", em que atores brancos escureciam o rosto para representar personagens afro-americanos] porque "o judaísmo da personagem é tão integral".

"A Helen será excelente. Boa atriz, sexy e inteligente. Está parecida com a personagem. A minha opinião, e isso é o que é, uma mera opinião, é que se a raça da personagem, religião, ou género impulsiona ou define o retrato, então a correta - à falta de um [termo correto] - etnia deve ser uma prioridade. O que não quer dizer que [a peça] 'Péricles, Príncipe de Tiro' tenha que ser [interpretada por] um puro ator de Tiro [descendente de fenícios]. É complicado", elaborou Maureen Lipman num email ao jornal britânico the Guardian.

O casting de Helen Mirren foi apoiado pelo neto da estadista, que defendeu que ela será "excelente" e não era importante se a era ou não de origem judaica, mas a própria reconheceu que teve dúvidas.

"Certamente era uma pergunta que tinha antes de aceitar o papel. Disse 'Olhe, Guy [Nattiv], eu não sou judia, e se quiser pensar sobre isso e decidir seguir numa direção diferente, sem ressentimentos. Vou perceber completamente. Mas ele queria muito que eu fizesse o papel e lá fomos nós", explicou ao tablóide britânico Daily Mail.

Helen Mirren salientou que não ficou melindrada com as críticas de Maureen Lipman: "Acredito que é uma discussão que precisa ser feita – é totalmente legítima".

Mas a atriz também diz que se podem levantar outras questões.

“Se alguém que não é judeu não pode interpretar um judeu, alguém que é judeu interpreta alguém que não é judeu? Se existe um ator com deficiência, que é brilhante, mas teve muito poucas oportunidades, e aparece agora este papel maravilhoso que é para um ator com deficiência, tudo sendo justo, ele ou ela devem ter esse papel", opinou.

Outra questão muito debatida seria se apenas atores 'gay' devem interpretar personagens 'gay'.

"Sei que existem atores, como o Ian McKellen, que penso que que teriam um grande problema com isso porque o que acontece então quando se é um ator 'gay'? Não se deve poder interpretar personagens heterossexuais? É por este caminho que se quer seguir?", interrogou, apesar de reconhecer que deve ser bastante frustrante para um ator 'gay' "ver um ator heterossexual a dar, na sua opinião, uma espécie de desempenho falso e simplista".

A entrevista termina com uma confissão: "O meu único medo é ser realmente má como Golda. Nesse caso, estou frita".