A caminho dos
Óscares 2020
Depois de avisar que a diversão ia ser feita à custa das estrelas ("lembrem-se, são só piadas, vamos todos morrer em breve e não há sequela"), o comediante britânico começou a cerimónia com o escândalo de admissões em universidades que envolveu várias estrelas ("Esta noite cheguei de limousine e a matrícula foi feita pela Felicity Huffman") e passou por vários tópicos, essencialmente terminando com um ataque brutal aos pecados e hipocrisia de toda a indústria.
Ricky Gervais recordou que estavam presentes muitos dos executivos mais poderosos de Hollywood, todos muito diferentes, mas com algo em comum: "estão todos cheios de medo do Roman Farrow" (o jornalista que denunciou os abusos do produtor Harvey Weinstein).
Foi um aperitivo para o que veio logo a seguir: "Por falar em todos vocês, pervertidos, foi um grande ano para filmes de pedofilia: 'Surviving R. Kelly', 'Leaving Neverland'... 'Dois Papas'".
A língua afiada do comediante também abordou a controvérsia da falta de representatividade em algumas categorias importantes: "Infelizmente, não podemos fazer nada sobre isso. Os membros da Associação de Imprensa Estrangeira são muito, muito racistas. Íamos fazer um 'In Memorian' [homenagem aos que faleceram], mas quando vi a lista de pessoas que morreram, não tinha diversidade suficiente. Eram principalmente gente brancas. Pensei, 'não comigo a mandar'. Talvez no ano que vem, vamos a ver o que acontece".
Passando para o domínio da Netflix e aproveitando para fazer publicidade à sua série na plataforma "After Life", sobre um homem que se quer matar depois de perder a esposa por causa de um cancro, Ricky Gervais disse que série era mais divertida do que os Globos e "a segunda temporada está a caminho, portanto obviamente que ele não se matou, tal como o Jeffrey Epstein".
Com o público presente audivelmente a digerir com incómodo a referência ao milionário acusado de pedofilia à volta de quem permanece uma controvérsia sobre as circunstâncias da sua morte, o comediante acrescentou "Calem-se, sei que ele é vosso amigo mas não quero saber".
A crítica ao cinema de super-heróis também não foi esquecida e incluiu uma referência ao uso de esteroides por parte dos atores, mas Martin Scorsese, que comparou os filmes a parques de diversão, ouviu a piada de que não tinham altura suficiente para os frequentar.
"'O Irlandês' foi espantoso", acrescentou. "Longo, mas espantoso. Não foi o único filme épico, 'Era Uma Vez em... Hollywood', quase com três horas. Leonardo DiCaprio foi à antestreia e no fim, a namorada era demasiado velha para ele".
Piadas sobre James Corden, Judi Dench e o filme "Cats" tiveram linguagem mais gráfica e censurada pela NBC, mas antecederam o minuto final: a pretexto da entrada da Apple no mundo das séries com 'The Morning Show' levou a um ataque brutal à hipocrisia de Hollywood.
"Um drama soberbo sobre a importância da dignidade e de fazer o que está certo, feito por uma empresa que tem 'sweatshops' na China [fábricas de suor, referindo-se às condições de trabalho precárias]. Vocês dizem que acordaram... as empresas para quem vocês trabalham, inacreditável. Apple, Amazon, Disney... se o ISIS começasse um serviço de streaming, vocês ligavam aos vossos agentes", começou.
"Portanto, se ganharem um prémio esta noite, não o usem como uma plataforma para fazer um discurso político. Não estão em posição para dar lições ao público sobre nada. Não sabem nada sobre o mundo real, a maioria de vocês passou menos tempo na escola do que a [ativista] Greta Thunberg". Se ganharem, subam, aceitem o vosso pequeno prémio, agradeçam ao vosso agente e ao vosso Deus, e f*** off", concluiu.
A cerimónia dos Globos de Ouro decorreu esta madrugada em Hollywood e premiou nos filmes "Era Uma Vez...em Hollywood" e "1917" e nas séries "Succession" e "Fleabag", entre outros.
Veja o monólogo de abertura de Ricky Gervais:
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