James Schamus foi o convidado de honra da série de conferências de argumentistas organizada anualmente pela Academia de Cinema Britânica e pelo British Film Institute.
No animado debate que se realizou na quinta-feira à noite, o respeitado produtor, argumentista e em tempos o principal responsável da produtora Focus Features, que ajudou a financiar e distribuir filmes como «O Pianista» (2002), «Lost in Translation» (03), «O Despertar da Mente» (04) ou «O Segredo de Brokeback Mountain» (05), discutiu as mudanças que se estão a operar na indústria cinematográfica, o trabalho em televisão, o seu envolvimento no amaldiçoado «Hulk» (03) e o conceito de arte, evocando... «Showgirls», de Paul Verhoeven.
Schamus, também reconhecido por uma longa colaboração com o realizador Ang Lee, confirmou crescente dependência do crescimento dos mercados internacionais: «Hollywood não é americana. As suas receitas são apenas 30-40% americanas. Neste momento, o seu objetivo principal é fazer filmes que as pessoas chinesas de 20 anos queiram ver. Isso é realmente o futuro.»
Em relação à importância dos argumentistas, referiu que estavam numa posição muito baixa na hierarquia da indústria cinematográfica e que é na televisão que têm controlo a sério: «Os argumentistas contratam os realizadores. Como é que fazem isso? Não faço ideia».
Sobre «Hulk», provavelmente o seu trabalho mais mal recebido, recorreu ao humor: «De certa forma gosto que seja o mau objeto na carreira de Ang Lee. O pormenor bizarro sobre «Hulk» é que se formos ao [sítio] Rotten Tomatoes, vemos que até está bem cotado. Não muito, está tipo 64%. Mas aparentemente era tão mau que tiveram de fazer «O Incrível Hulk» (2008), que acabou por fazer menos dinheiro».
Schamus confirmou ainda o que há muito circulava: que chegou a trabalhar em «Hulk 2», que se passaria numa reserva índia e envolveria radioatividade e teria um caráter político, mas que cancelou tudo logo após saírem as reações ao primeiro filme. «Decidi rapidamente antes que alguém fizesse o telefonema que devia fazer o telefonema».
Talvez o aspeto mais controverso da conferência tenha sido a sua disputa de que a escrita para cinema é uma forma de arte, argumentando que alguém que tenha escrito um argumento tinha na verdade «criado 124 páginas a implorar dinheiro e atenção. Como é que isso se encaixa na categoria de arte?».
Com o debate sobre a arte e a sua criação a tornar-se mais filosófico, Schamus refletiu sobre a razão de alguns filmes serem considerados obras de arte e outros não: ««Showgirls», por exemplo, não era «não arte», era apenas mau. Deve a arte ser boa? Não, a maioria não presta, mas continua a ser arte».
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