O novo filme do realizador português Luís Ismael "1618" retrata a reação do Porto à entrada da Inquisição, num projeto inter-religioso e de combate ao antissemitismo das comunidades judaica e cristã, cujas receitas vão reverter para fins sociais.
Baseado em factos verídicos, a longa-metragem conquistou cerca de “60 prémios internacionais” em festivais de cinema, incluindo os New York International Film Awards e o Montreal Independent Film Festival, e retrata como é que a cidade do Porto reagiu à entrada da Inquisição.
“Ao contrário de Lisboa, [por exemplo] no Porto, as fogueiras da Inquisição aconteceram apenas uma vez, creio. A população revoltou-se contra as autoridades eclesiásticas e cercaram o tribunal eclesiástico, obrigando-o a ceder aos seus propósitos”, contou o realizador Luís Ismael.
Na narrativa escolhida por Luís Ismael, o visitador Sebastião Noronha chega ao Porto, em 1618, enviado pela Inquisição, para continuar a perseguição aos judeus, levando o comerciante António Álvares, com a família e a comunidade em perigo, a traçar um plano de fuga.
“Quis contar uma história, não quis fazer um documentário, mas baseado em facto verídicos, em personagens que de facto existiram, como é o caso do bispo do Porto, personagem 'apaziguadora' da história, do médico Nicolau Lopes e do presidente do Tribunal da Relação, Diogo Sousa”, explicou.
Descrevendo-o como uma “história de esperança” sem artefactos de uma narrativa cinematográfica, o filme é parte de um projeto inter-religioso e de combate ao antissemitismo entre a Comunidade Judaica do Porto (detentora dos direitos sobre o filme) e a Diocese Católica do Porto.
"As receitas do filme em Portugal irão reverter para fins de solidariedade social, em parceria com a diocese católica e com o Banco Alimentar", revelou Gabriela Cantergi, da Comunidade Judaica do Porto, citada num comunicado hoje divulgado.
A longa-metragem será distribuída pela NOS em Portugal a 16 de setembro.
Rodado em 2020, o filme despertou ainda o interesse de uma distribuidora norte-americana que tem neste momento o filme em processo de venda e distribuição.
"1618" é uma das maiores produções cinematográficas realizadas em Portugal, tendo constituído para o realizador um “grande desafio”.
Com um orçamento de dois milhões de euros, a longa-metragem foi rodada ao longo de três meses, tendo chegado a ter em cena cerca de 300 figurantes.
Produzido pela Lightbox, com realização de Luís Ismael, "1816" contou com a participação dos atores Pedro Laginha, Catarina Lacerda, Francisco Beatriz, Mafalda Branqart, Heitor Lourenço e Pompeu José, entre outros.
A incursão do Luís Ismael pela história judaica do Porto começou, contudo, com o filme "Sefarad", que em hebraico tradicional significa Península Ibérica, mas que nos dias hoje também significa Espanha.
O filme conta a história da comunidade judaica do Porto desde 1496 até aos nossos dias, e estreou-se em novembro de 2019, na plataforma Amazon Prime.
Realizado em 2018 e com duração de 90 minutos, "Sefarad" foi apresentado pela primeira vez no festival de cinema judaico de Miami (EUA), em janeiro de 2019, tendo arrecadado vários galardões.
Recebeu também um prémio em Moscovo (Rússia) pela preservação da memória sefardita, e uma distinção pela Bnei Brith International (organização judaica).
Em novembro de 2019, a Comunidade Israelita do Porto (CIP) avançava que a película ia ser ampliada ao período inquisitorial, prevendo-se então uma espécie de sequela, com um novo filme sobre o período da Inquisição em Portugal.
Natural do concelho de Valongo, distrito do Porto, Luís Ismael é sobretudo conhecido pelo seu trabalho na trilogia “Balas e Bolinhos”, cujo primeiro filme estreou em 2001 e o último, mais recentemente, em 2012, e que dirigiu, escreveu e participou como ator. Produziu ainda "Bad Investigate" (2018).
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