"O Banho do Diabo", uma exploração da depressão feminina na Europa rural do século XVIII, recebeu no sábado o prémio máximo da 57.ª edição do Sitges - Festival Internacional de Cinema Fantástico da Catalunha, uma referência do género, que também premiou o colombiano "Mi bestia" ["Minha Besta", em tradução literal] como o melhor filme latino-americano.
Com estreia portuguesa anunciada para 24 de outubro, o filme, realizado por Veronika Franz e Severin Fiala e que representará a Áustria na corrida aos Óscares, acompanha a vida de Agnes (Anja Plaschg), uma mulher recém-casada que entra em depressão ao descobrir as suas obrigações conjugais numa sociedade patriarcal marcada pelo obscurantismo.
A dupla de realizadores, que já triunfou neste mesmo festival há dez anos com "Ich seh, Ich seh" [“Boa noite, mãe”], regressa ao seu cinema psicológico mais opressivo com este retrato baseado em acontecimentos reais de vidas que “não aparecem nos livros de história”, segundo os seus autores.
O prémio Blood Window para o Melhor Filme Latino-americano foi para "Mi bestia", de Camila Beltrán, ambientado em Bogotá em 1996, quando o medo irracional do eclipse iminente leva Mila, de 13 anos, a questionar-se sobre o mal e as transformações do seu próprio corpo.
Este filme de estreia, protagonizado por Stella Martínez, baseia-se nas memórias da cineasta e aborda a puberdade e a menstruação como “uma espécie de poder que [a protagonista] tem, que a fascina e que decide assumir até o âmago”, disse a cineasta à France-Presse quando apresentou o filme em Cannes em maio passado.
Epicentro do cinema fantástico latino-americano
Sitges demonstrou mais uma vez a grande vitalidade do cinema fantástico latino-americano, com estreias mundiais de títulos que não hesitam em abordar a realidade por vezes incómoda do continente através do terror e da fantasia.
Foi o caso de “1978”, dos irmãos argentinos Nicolás e Luciano Onetti, sobre a violenta história do sequestro de um grupo de jovens cujos torturadores descobrem tarde demais que capturaram as pessoas erradas.
Também foram apresentados em Sitges o mexicano "Un cuento de pescadores" [“Um Conto de Pescador”], de Edgar Nito, que se baseia numa lenda antiga para investigar o choque entre modernidade e tradição no mundo rural, e “Continente”, de Davi Pretto, que aborda as desigualdades económicas e sociais do sul do Brasil através de uma história de vampiros.
A 57.ª edição do festival contou, entre outros convidados, com o ator norte-americano Giancarlo Esposito, conhecido pelo seu papel como Gus Fring na série “Breaking Bad”, o realizador Mike Flanagan, considerado o mestre do terror contemporâneo pelas sagas "A Maldição de Hill House" e de "A Maldição de Bly Manor", e o ator australiano Geoffrey Rush, vencedor de um Óscar e muito popular pelo seu papel como Capitão Barbossa na saga “Piratas das Caraíbas”.
Sitges é também uma festa para os milhares de fãs entusiasmados que esgotam as salas desta pequena cidade da costa catalã e celebram todos os anos uma enorme "Caminhada Zumbi", um desfile de pessoas vestidas de mortos-vivos que, nos últimos anos, têm vindo a brotar por cidades de todo o mundo.
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