O filme madeirense “Posso olhar por ti”, a primeira longa-metragem do realizador Francisco Lobo Faria, estreia-se nos cinemas portugueses em 30 de março, e pretende provocar “um pequeno abanão” na consciência dos espectadores.
Com três prémios em festivais internacionais, uma menção honrosa e várias seleções oficiais, “Posso olhar por ti” é composto por um elenco jovem, sobretudo madeirense, e é rodado integralmente na Madeira, principalmente no concelho do Porto Moniz, no norte da ilha.
Em entrevista à agência Lusa, Francisco Lobo Faria destaca que se trata de “um filme bem disposto, que se consome bem, com alguma leveza”, mas que “acaba por provocar um pequeno abanão na consciência das pessoas”.
“O motivo utilizado das crianças como base da narrativa transporta o filme para esse espaço de leveza, essa jovialidade. No entanto, é uma pequena rasteira porque estas crianças, embora sejam jovens e sejam entusiastas e vivam com essa leveza da juventude, estão a fazer algo que não é expectável, que à partida o público adulto será surpreendido com os propósitos”, sustenta.
O realizador madeirense diz que o ser humano, à medida que amadurece, vai criando uma distância em relação à sociedade, uma espécie de “capa”, sendo que a “reflexão passa pelas crianças”, uma vez que são mais permeáveis e “sensíveis aos outros e à realidade dos outros”.
“Mas elas não fazem essa reflexão de forma filosófica. Elas deixam a semente para que quem vê o filme possa refletir sobre essas temáticas. Existem muitas outras temáticas a ser abordadas no filme, umas são mais determinantes, outras são mais acessórias, mas essencialmente o filme reflete sobre a coesão social, sobre essa questão de quem é que nós somos uns para os outros”, aponta.
O projeto começou ainda antes da pandemia de covid-19 e nasceu com o objetivo de “dar palco ao talento” que existe na Madeira e que tem poucas oportunidades.
Quando Francisco Lobo Faria começou a dar aulas de teatro, apercebeu-se “que a falta daqueles miúdos a uma realidade que estivesse à altura do talento deles era um flagelo”.
“E era uma hipocrisia formar e não fazer o esforço de lhes dar um palco ao nível do talento deles”, afirma.
O realizador salienta que o filme foi feito “sempre com a perspetiva de ser profissional, com contexto profissional, não foi pensado como um ‘filmezinho’ porque os miúdos são pequenos”.
“Já existia a ideia de que o filme chegaria aos cinemas e estava a ser feito para chegar aos cinemas”, reforça.
A generalidade dos atores e técnicos que fizeram parte da produção de “Posso olhar por ti” é madeirense, embora sem nunca “fechar portas a ninguém do exterior”.
“A ideia do projeto é promover o talento e o mérito, seja ele de que origem for. Estando nós a produzir na Madeira, acabamos por ter uma incidência maior e que faz sentido para equilibrar um pouco a realidade do mercado artístico. […] Faz sentido que se dê oportunidade aqueles que não têm tido e os madeirenses têm tido muito pouco”, considera.
Francisco Lobo Faria confidencia que já está a trabalhar no próximo filme, atrevendo-se a dizer que tem na ‘manga’ um argumento “ainda melhor do que este”, embora não queira para já revelar mais pormenores.
O objetivo é realizar uma produção “com o mesmo propósito, com os mesmo objetivos”, mas com “mais recursos” do que teve “Posso olhar por ti”.
“Eu quero abrir caminho para os outros, não só para mim, porque nós somos mortais. Nós não dominamos, não somos donos de nada nunca em absoluto e o que eu quero é que o caminho que eu venha a percorrer seja aberto para facilitar também o alcance dos outros que vêm a seguir”, sublinha.
“Quero que os outros que vêm a seguir sejam maiores do que eu”, reforça.
O realizador madeirense diz-se incomodado com a dificuldade que os madeirenses têm em chegar “aos contextos do mercado nacional e que o seu currículo seja pouco considerado e pouco relevante”.
“Essas são coisas que eu espero mudar. Espero que o ICA [Instituto do Cinema e Audiovisual] apoie mais o criador, que se criem veículos de meritocracia”, refere.
A longa-metragem de Francisco Lobo Faria, que chega aos cinemas portugueses em 30 de março, recebeu o prémio para o melhor elenco juvenil no Titan Internacional Film Festival, na Austrália, foi distinguida com o galardão de Melhor Longa-Metragem Internacional no Golden Lion Internacional Film Festival, na Índia, e recebeu ainda o prémio de melhor filme de estreia num festival em Singapura.
Martim Lobo, Laura Silva, Francisca Madeira, Tiago Valente, Iago Fernandes, Matilde Gouveia e Eduardo Sousa são os sete jovens que protagonizaram o filme que tem imagem de Carlos Melim, som de Daniel Guiomar, produção executiva de Vanessa Fernandes e montagem de Herman Delgado.
Comentários