O vencedor da competição internacional, a principal do certame, no palmarés hoje anunciado, remete para o início da guerra na Ucrânia em 2022, através da perspetiva de uma jovem russa, Masha, que recusa a violência e abandona o seu país. Numa resposta à perda, regista em vídeo a nova realidade, numa espécie de diário em fragmentos. Dessa visão e da vida anterior que perdeu, vem o título "The Shards".

Para o júri do DocLisboa, o filme da realizadora russa "mergulha numa realidade definida não com a intenção de meramente a documentar, mas com o propósito de lhe extrair um sentido através da poética organizada das suas imagens".

Na competição internacional foram igualmente distinguidos, com o Prémio Cupra, em ex aequo, "Fire Supply", de Lucía Seles, "um folhetim urbano cómico e triste que reflecte a disfunção da vida nas grande cidades contemporâneas”, e "The Anchor", de Jen Debauche, “uma viagem que combina imagens, palavras, revelações íntimas e a experiência da natureza, para expôr uma vislumbre único da alma de uma mulher e proporcionar um espaço para repensar a fragilidade psíquica”, segundo o júri.

"The Anchor", protagonizado por Charlote Rampling, centra-se numa psicoterapeuta que ouve depoimentos gravados de sessões com antigos pacientes. Este é, aliás, o filme mais premiado desta edição do festival: além do prémio Cupra, recebeu também o prémio Revelação Canais TVCine, garantindo a exibição televisiva em Portugal, à semelhança de "Dad’s Lullaby", da realizadora ucraniana Lesia Diak, que teve uma menção honrosa.

Na competição portuguesa, o Prémio MAX de melhor filme foi para "O Palácio de Cidadãos", filme de Rui Pires, destacado pelo júri por ser um “retrato cinematográfico detalhado da Assembleia da República", analisando "os riscos e os desafios da democracia”.

Nesta competição, o prémio Sociedade Portuguesa de Autores foi para “The nights still smell of gunpowder/As noites ainda cheiram a pólvora”, de Inadelso Cossa, e o prémio Escola foi atribuído a “I am here/Estou aqui”, de Zsófia Paczolay, Dorian Rivière, produção que envolveu Moçambique, Alemanha, França, Portugal, Países Baixos e Noruega.

“The falling sky/A queda do céu”, dos realizadores brasileiros Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, venceu o prémio da Fundação Inatel, por dar "relevo a pessoas, lugares, olhares, palavras que interpelam profundamente o espetador”, segundo o júri.

A escolha de “Favoriten”, de Ruth Beckermann, para o Prémio Lugares de Trabalho Seguros e Saudáveis, é justificada por levantar questões “particularmente oportunas para se pensar nestes tempos convulsos que precisam de mais integração e menos ódio”.

O prémio do público foi para a produção portuguesa “Por ti, Portugal, eu juro!”, de Sofia Palma Rodrigues e Diogo Cardoso.

O filme, que teve estreia mundial nesta edição do DocLisboa, resultou de uma investigação jornalística da publicação digital Divergente, também premiada, sobre os comandos africanos do exército português. Nesta longa-metragem documental, os antigos comandos contam pela primeira vez a sua história.

"Por ti, Portugal, eu juro!" teve ainda o Prémio Doclisboa - Prémio para Melhor Filme Português transversal a todas as secções, "exceto retrospetivas e competições".

Os filmes premiados nesta edição do festival internacional de cinema documental, que teve início no passado dia 17, serão exibidos entre segunda e quarta-feira, no Cinema Ideal, em Lisboa.