Uma viúva inconsolável assiste ao enterro do "rei do peixe" de Nápoles, assassinado por um clã rival, mas, de repente, começa a cantar...
Esse é um exemplo do multifacetado cinema italiano que volta este ano ao Festival de Veneza: "Ammore e Malavita", uma comédia musical dos irmãos Manetti, em dialeto napolitano, trouxe um sopro de ar fresco e diversão à 74ª edição do festival de cinema.
Ambos os cineastas foram muito aplaudidos na quarta-feira à tarde quando chegaram à conferência de imprensa.
Com cerca de 30 filmes italianos apresentados, quatro deles na competição oficial, o diretor da Mostra, Alberto Barbera, fala de "uma pequena nova vaga" repleta de jovens talentos.
"É um bom momento para o cinema italiano", declarou na abertura do festival o ministro italiano da Cultura, Dario Franceschini, que aproveitou a ocasião para elogiar a recém-aprovada lei de apoio à indústria cinematográfica no seu país. Esta prevê, entre outras coisas, empréstimos de 400 milhões de euros por ano, um aumento de 60% em relação aos créditos anteriores.
Na irónica "Ammore e Malavita", os irmãos Manetti filmam uma série de ajustes de contas entre mafiosos, gozando com a Camorra napolitana com canções originais e bem interpretadas.
No filme, um assassino profissional, um homem bonito com ares de James Bond (Giampoaolo Morelli), mata todos os que atravessarem o seu caminho para salvar o seu amor de juventude, uma enfermeira cujo assassinato tinha sido encomendado.
"É um cinema divertido, criativo, marginal em todos os sentidos, provocador, que trabalha com os géneros", explicou Barbera.
"Estamos um pouco assustados perante alguns filmes em competição, talvez mais profundos, mas a postura do marginal é confortável", assegurou à AFP Marco Manetti, de 49 anos, que sempre trabalha com o seu irmão Antonio, três anos mais novo.
Estes fãs de música, que já experimentaram vários géneros, incluindo o cinema de vampiros, aprenderam o ofício dirigindo uma centena de videoclips.
"O mercado italiano do cinema é dominado por dois géneros, a comédia e o cinema social de autor apresentado nos festivais", disse Marco.
"O nosso filme é muito pessoal, uma tentativa de transmitir emoções, às vezes sérias, mas sempre envolvidas em ironia, a nossa forma de observar o mundo", explicou.
Quando turistas americanos amantes das sensações intensas chegam de camioneta a Scampia, uma favela no norte de Nápoles e bastião da máfia, vêem todos os seus pertences roubados, mas não desanimam e improvisam uma coreografia para celebrar os perigos da zona.
"É o nosso filme mais livre, 100% como queríamos fazer, com um orçamento maior do que o habitual", disse Marco, um admirador dos irmãos Taviani.
Projeção internacional
Para deleite dos nostálgicos, Gérard Depardieu apresentou na terça-feira à noite a versão restaurada de "Novecento", de Bernardo Bertolucci (1976), que foi filmado durante mais de um ano com estrelas como o ator francês e os americanos Robert de Niro e Donald Sutherland.
Nos últimos anos, cineastas italianos como Nanni Moretti, Matteo Garrone e Paolo Sorrentino tornaram-se famosos no exterior. Agora, outros realizadores conhecidos na Itália, como Paolo Virzì, querem seguir seu exemplo.
Virzì, de 53 anos, apresentou no domingo em competição o seu primeiro filme em inglês, "The Leisure Seeker", um 'road movie' sobre um casal de idosos, filmado nos Estados Unidos.
Segundo os seus atores, a localização não prejudica a identidade italiana da obra.
"O seu olhar estrangeiro sobre os Estados Unidos, fresco e pessoal, traz profundidade à história", explicou a britânica Helen Mirren.
"A sua proposta parece universal, mas Virzi é realmente muito italiano", referiu Sutherland.
Na sexta-feira, penúltimo dia do festival, um italiano de 35 anos, Andrea Pallaoro, também apresentará um filme com projeção internacional, "Hannah", uma coprodução italiana, belga e francesa que conta com Charlotte Rampling como protagonista.
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