Mais de 100 organizações civis sul-coreanas criticaram o Festival de Berlim, que expressou apoio à campanha #MeToo contra o abuso das mulheres, pela sua "indulgência" com o realizador Kim Ki-duk, acusado de agressão física e abuso sexual.
Kim é um dos cineastas mais conhecidos da Coreia do Sul e já recebeu um Leão de Ouro no Festival de Veneza por "Pieta" (2012) e um Urso de Prata de diretor em Berlim por "Samaritana" (2004).
Em dezembro, uma atriz que pediu anonimato denunciou abusos do realizador durante uma rodagem.
Esta acusou-o de abusos físicos e sexuais, alegando que a agrediu e a obrigou a rodar cenas nuas e de sexo que não estavam no argumento de "Moebius" (2013), antes de substituí-la por outra atriz.
A mulher, que depois das filmagens terminou a sua carreira de 20 anos, apresentou uma queixa.
Kim, de 56 anos, foi condenado a pagar cinco milhões de wons (4.600 dólares) por agressão física. As outras acusações, incluindo a de assédio sexual, não foram aceitas com a alegação de falta de provas.
A atriz apelou da decisão sobre o abuso sexual.
Kim admitiu que dar chapadas fazia parte do processo de aprendizagem. O seu filme mais recente, "Human, Space, Time and Human", será exibido no Festival de Berlim, que começa nesta quinta-feira.
"Estamos a viver nesta injusta realidade, em que o autor de um ataque físico trabalha e é bem-vindo em qualquer parte como se nada tivesse acontecido, enquanto a vítima que denunciou o abuso é isolada e marginalizada", escreveram num comunicado 140 organizações da sociedade civil, que incluem grupos de defesa dos direitos da mulher, dos direitos humanos e de ajuda às vítimas.
O diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, afirmou que a edição deste ano do festival servirá de "fórum" para discutir como combater o abuso contra as mulheres na indústria de cinema.
Kosslick disse que a organização do evento não aceitou os trabalhos de cineastas acusados de "forma grave" de abusos sexuais.
"Por que, então, a Berlinale é indulgente com Kim, estendendo a passadeira vermelha para ele e para o seu filme?", questiona o comunicado, que acusa os organizadores do festival de "consentir e endossar" o comportamento de Kim.
A organização do festival afirmou que as alegações de abuso sexual foram rejeitadas e que o evento "se opõe e condena toda forma de violência, ou de má conduta sexual".
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