Não é uma sequela, um «remake» ou um «reboot», trata-se de uma reimaginação do universo criado por James Cameron, nos dois filmes assinados por si em 1984 e 1991: «Exterminador: Genisys» é um filme inteligente que começa dentro da mitologia de James Cameron e embarca para novos destinos, com a bênção do senhor Avatar.
Kyle Reese (Jai Courtney) está no centro desta história. Em tempos um miúdo que foi salvo por John Connor (Jason Clarke), cresce a seu lado e torna-se o braço direito do líder da resistência. Em 2029, quando as máquinas subjugam a humanidade e, no derradeiro combate para destruir a Skynet, a resistência não chega a tempo para despoletar uma arma poderosa das máquinas – o envio de um máquina/exterminador para assassinar Sarah Connor antes do nascimento de John, é Kyle é a solução.
A intenção é regressar ao passado, a 1984, e impedir a missão do exterminador, mas o passado foi alterado. Kyle é surpreendido por um novo cenário: um temível adversário, o exterminador T-1000 (Byung-hun Lee está arrepiante, a roçar o terror), um surpreendente aliado num T-800 (Arnold Schwarzenegger), uma máquina que ganhou humanidade e está velha mas não obsoleta, e uma guerreira e sobrevivente na forma de Sarah Connor (Emilia Clarke), que supostamente devia ser uma ingénua emprega de mesa.
A nova missão de Kyle e Sarah é apagar o futuro predestinado e impedir o “Dia do Julgamento”, o apocalipse provocado pelas máquinas, saltamos de Los Angeles 1984 para São Francisco em 2017, a Skynet agora intitulada de Genesys tem na sua mão a chave da destruição da humanidade. A narrativa lida tanto como o amor que está para acontecer entre Sarah e Kyle (eles têm de “acasalar” para John nascer) e a relação entre pai e filha. Existe uma genuína preocupação com os personagens, a história de amor e a família.
Emilia Clarke, a estrela de «A Guerra dos Tronos» salta do sucesso da televisão para um blockbuster de verão, dirigida por Alan Taylor (o seu realizador da série da HBO) e com um argumento que lida com grande agilidade entre o drama e a acção, está segura como um rochedo. Neste filme contracena perfeitamente com Jai Courtney, um actor que tem presença em cena com a sua habitual característica de saber expressar-se tão bem nos silêncios como nos diálogos, é talhado para o cinema de “acção”, vejam a sua participação em «Jack Reacher».
O personagem de Arnold Schwarzenegger é um exterminador que é enviado no tempo para salvar Sarah Connor quando esta tinha 9 anos, não consegue salvar os pais da criança e torna-se o seu guardião, um protetor e de certa forma um pai. É uma relação muito bem trabalhada pelos argumentistas Laeta Kalogridis e Patrick Lussier e o realizador. Arnie continua a demonstrar no crepúsculo da sua carreira uma estranha versatilidade neste caso interpreta um “avô” exterminador numa missão de proteger a sua menina, um personagem lacónico que transmite afecto e preocupação paternal com umas chalaças pelo meio. Há umas semanas atrás, presenciamos Schwarzenegger numa das melhores interpretações da sua carreira no drama zombie «Maggie», um filme estreado entre nós, ficamos curiosos para ver o futuro do “last action hero” dos anos 80/90.
Alan Taylor («Thor: O Mundo das Trevas») é excelente a dirigir a acção, seja CGI sejam stunts reais, as sequências são intensas e não falham uma nota. O filme, graças aos diálogos não só do humor do personagem de Schwarzenegger mas também dos arrufos de Kyle e Sarah e a paranoia do detective O'Brien (o brilhante J.K. Simmons). Os personagens trazem uma atmosfera mais leve num registo que equilibra bem o entretenimento e o drama.
As viagens temporais e os universos alternativos não assustam, não precisamos de visionar as restantes fitas da série para filtrar a história, pelo contrário se apreciarmos até vamos querer rever os filmes passados. Não fazendo esquecer os incontornáveis «O Exterminador Implacável» e «Exterminador Implacável 2: O Dia do Julgamento», «Exterminador: Genisys» é o terceiro melhor filme desta saga e vale o ingresso para apreciadores de acção em alta rotação.
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