Lançou a carreira do realizador James Cameron, solidificou Arnold Schwarzenegger como protagonista e foi decisivo na construção da sua mitologia, mas aquele que é um dos maiores clássicos do cinema da ficção científica começou por ser um filme "série B" de ação sobre um robô era enviado do futuro para assassinar a mãe do do futuro líder da resistência na luta contra as máquinas, com um orçamento quase insignificante, mesmo para a época (cerca de 6,4 milhões de dólares).
A história de "O Exterminador Implacável", "Terminator" ou simplesmente "T1" agora é bem conhecida, mas esta era a apresentação oficial há 40 anos: "Em 2029, super-computadores dominam o mundo, determinados a eliminar a raça humana! Para destruir o futuro da humanidade enviam um cyborg indestrutível - um Exterminador (Schwarzenegger) - para o passado, com a missão de matar Sarah Connor (Linda Hamilton), a futura mãe do líder da resistência humana".
Foi a 26 de outubro de 1984 que chegou às salas de cinema norte-americanas o filme com que James Cameron se estreou efetivamente na realização (não estamos a esquecer que, na verdade, isso aconteceu com «Piranha II - O Peixe Vampiro», em 1981, mas não recomendamos a ninguém lembrar-lhe a má experiência).
Oficialmente, Cameron apenas realizou e co-escreveu o argumento - com a então namorada, em breve esposa, Gale Anne Hurd -, mas, personalidade de fortes convicções, a sua influência nota-se em todas as áreas de produção: foi com esta espécie de 'thriller sci-fi' de terror, que ele, então com 29 anos, apostou tudo.
Por seu lado, o estúdio tinha baixas expectativas até à estreia, mas o filme desafiou-as, ficando em primeiro lugar nas bilheteiras nas duas primeiras semanas de exibição. Quando as contas foram feitas, rendeu mais de dez vezes o seu orçamento (78 milhões em todo o mundo, 235 milhões atualizando com a inflação)
Ainda assim, "O Exterminador Implacável" não foi um sucesso 'arrasador', como reconheceu o próprio Cameron: sucesso foi 'em relação ao seu mercado, que é entre os filmes de grande orçamento do verão e os do Natal. Mas é melhor ser um grande peixe num lago pequeno do que o contrário'.
Aliás, existe quem defenda que, na verdade, foi graças à sequela, "Exterminador Implacável 2: O Dia do Julgamento" (1991), o "T2", que se cimentou o estatuto de clássico que hoje é reconhecido ao "T1".
Todavia, a sequela é, antes de mais, uma emocionante evolução do universo original: a transformação de Sarah Connor (Linda Hamilton) ou o vilão passar a herói (a popularidade de ator protagonista a isso obrigava) foram jogadas de génio de Cameron. Sendo evidente a notável evolução técnica, a essência do "T2" e sequências inteiras vêm inteiramente do primeiro filme.
Não obstante todo o talento reunido atrás das câmaras ou a comovente relação à frente delas que surgia entre Sarah Connor e Kyle Reese, o membro da resistência enviado do futuro para a proteger (Michael Biehn), decisivo para o sucesso do primeiro "Exterminador Implacável" foi a escolha do protagonista.
Schwarzenegger foi um 'casting' perfeito: a sua icónica performance como o frio assassino cibernético T-800, uma das melhores da carreira, quando já tinha 36 anos, confirmou as suas credenciais como grande estrela de ação. Indissociável da icónica frase "I´ll be back", este é seu melhor e mais famoso papel, aquele que lhe garante a imortalidade realmente ao alcance de poucas estrelas de cinema.
Sem surpresa, não resistiu a voltar depois de "O Dia do Julgamento", mesmo sem Cameron como realizador, sem sequelas progressivamente com resultados comerciais e artísticos cada vez mais catastróficos: falhou "Exterminador Implacável - A Salvação" (2009) por ser então Governador da Califórnia, mas foi envelhecendo em "Exterminador Implacável 3 - Ascensão das Máquinas" (2003), "Terminator: Genisys" (2015) e, surpreendentemente, reencontrando Linda Hamilton em "Exterminador Implacável: Destino Sombrio" (2019), com Cameron também a regressar como produtor e um dos criadores da história.
O sexto filme da saga era uma sequela oficial direta dos dois primeiros que ignorava tudo o que se seguiu ('vamos fingir que os outros filmes foram um mau sonho', diria Cameron), alimentando a expectativa e com a ambição de lançar uma nova trilogia, mas a rejeição do público foi categórica.
Cameron faria a autópsia três depois: "Acho que o que aconteceu é que penso que o filme poderia ter sobrevivido com a Linda nele, acho que poderia ter sobrevivido com Arnold nele, mas quando se coloca nele a Linda e o Arnold, ela tem 60 e poucos, ele tem 70 e qualquer coisa, de repente não era o teu filme 'Exterminador', nem sequer era o filme 'Exterminador' do [tempo do] teu pai, era o filme 'Exterminador' do [tempo do] teu avô. E nós não vimos isso. Adorámos, achámos giro, estávamos a fazer esta espécie de sequela direta de um filme lançado em 1991. E o público jovem que vai ao cinema ainda não tinha nascido. Nem sequer iriam nascer durante outros dez anos".
Por sua vez, o septuagenário Schwarzenegger rendeu-se às evidências.
"A saga não acabou. Eu acabei. Recebi uma mensagem clara de que o mundo quer seguir em frente com um tema diferente no que diz respeito ao 'Exterminador Implacável'", disse a lendária estrela no ano passado à revista The Hollywood Reporter.
"Alguém tem de ter uma grande ideia", acrescentava, olhando para o futuro, provavelmente sem saber que, alguns meses mais tarde, seria anunciado que a próxima reinvenção da saga passará por uma série anime para a Netflix com novas personagens.
Há novas ideias a caminho, mas será preciso mais: o gigantesco fracasso de bilheteira de "Destino Sombrio" (um dos maiores da história do cinema) só reforçou, se dúvidas existissem, que "O Dia do Julgamento" e principalmente o agora quarentão "Exterminador Implacável" têm algo mais difícil de definir e muito menos de repetir, que os torna mais do que a mera soma dos talentos de Cameron, Schwarzenegger e Hamilton, as perseguições frenéticas por terra, ar e mar, os tiroteios espetaculares e as cenas de combate cheias de efeitos especiais...
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