A estreia do documentário "Lula", do cineasta norte-americano Oliver Stone, no Festival de Cinema de Cannes, no domingo, transformou-se num ato de apoio ao presidente brasileiro, com aplausos e vivas no salão.
"Este filme é sobre uma pessoa muito especial", disse Stone à sala antes do início do filme.
"Oliver Stone é alguém para quem filmar, colocar uma câmara, são armas e uma forma de reescrever, de visitar a história contemporânea", explicou Thierry Frémaux, delegado geral do Festival, que lembrou a atenção que o autor de "Salvador" (1986) tem dado à América Latina há décadas.
Apresentado fora da competição, "Lula" retrata rapidamente a infância e a juventude de Luiz Inácio Lula da Silva para se aprofundar no seu percurso sindical e político.
Com uma música de suspense à medida que o documentário se aproxima das polémicas eleições de 2022, Stone, de 77 anos, não esconde a sua predileção pelo presidente, que é apenas um ano mais velho do que ele.
No auditório, vaias e gritos podiam ser ouvidos a cada aparição do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022).
O mesmo aconteceu com a figura do ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro, Sergio Moro, o responsável pela investigação que acabou por levar Lula à prisão por 580 dias, entre abril de 2018 e novembro de 2019.
O caso Lava Jato
O documentário analisa o caso Lava Jato do ponto de vista dos advogados de Lula e do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, apoiante de Lula, que fornece o contexto histórico.
Stone co-assinou o documentário com o seu colaborador Rob Wilson, com quem criou obras como "JFK", sobre o assassinato do presidente John Fitzgerald Kennedy.
O documentário apresenta as acusações de corrupção contra Lula como não provadas.
Stone, convidado regular do Festival de Cinema de Cannes, não realizou a tradicional conferência de imprensa para apresentar o documentário.
Lula "foi preso por corrupção, que é como as coisas geralmente são feitas nesses países", disse o realizador e roteirista à France-Presse em abril, em Paris, onde foi promover outro documentário.
Conhecedor da história recente da América Latina, embora de uma perspetiva de esquerda, Stone considera que Lula estava prestes a sofrer o mesmo destino de outros líderes da região que foram derrubados por golpes militares.
Paralelismo com Trump
O cineasta também traçou um paralelo entre essas acusações legais, que ele descreveu como "lawfare" [uso indevido da lei para anular um rival político] e as que o ex-presidente Donald Trump está a sofrer atualmente nos EUA.
Trump, candidato republicano à presidência, foi indiciado por dezenas de acusações a nível estadual e federal.
O ex-presidente conservador é vítima de "lawfare", como "Lula foi na sua época", disse Stone na entrevista.
"Eles estão a usá-lo contra ele, completamente", disse.
Ao mesmo tempo, Stone acredita que os EUA estão de olho no Brasil.
"É um grande país e eles ficaram muito perto de controlá-lo" durante a crise que levou às eleições de 2022, disse.
Stone já filmou outros líderes latino-americanos, e entre os seus documentários mais conhecidos estão "Comandante", dedicado a Fidel Castro (2003) e "Mi Amigo Hugo", dedicado a Hugo Chávez (2014).
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