O cineasta norte-americano Martin Scorsese, que apresentou o seu novo filme, "Killers of the Flower Moon", fora da mostra competitiva no Festival de Cannes, disse à France-Presse (AFP) este domingo que chegou a hora de "dar a vez a outros" de competirem.
Aos 80 anos, o lendário realizador voltou a entusiasmar o festival, onde foi premiado duas vezes, agora com um drama policial protagonizado por Leonardo DiCaprio e Robert De Niro.
"É o momento dos outros. Tenho que passar a vez. Estão jovens à espera", disse o realizador, sorridente.
"Gosto das estatuetas douradas. Gosto muito", acrescentou.
"Mas agora penso mais que tempo, energia e inspiração são o mais importante", notou.
Segundo os organizadores da 76.ª edição do Festival de Cannes, a exibição deste filme de três horas e meia sobre o homicídio em série de indígenas no estado de Oklahoma nos anos 1920 foi avaliada até ao último minuto.
O filme, elogiado pela crítica, aborda um episódio doloroso da história dos Estados Unidos: os homicídios misteriosos que se abateram sobre uma comunidade da etnia osage, em Oklahoma, cujos moradores ficaram milionários com a descoberta de petróleo.
"Talvez se aprendermos a conhecer a nossa história e entender onde estamos, podemos mudar as coisas e estar à altura do país que se supõe que temos", refletiu.
No Oeste, mas longe dos cavalos
Scorsese admitiu que tinha vontade de fazer há bastante tempo um filme no Oeste.
"Fiquei muito entusiasmado quando vi os cavalos" explicou.
"Mas obviamente não me aproximei deles!", esclareceu.
A ideia deste filme levou anos de preparação, explicou o cineasta, a ponto de ter considerado adiar o seu filme anterior, "O Irlandês", para se concentrar em "Killers of the Flower Moon".
Mas "O Irlandês" exigiu um processo de "rejuvenescimento" digital do rosto de Robert De Niro, Al Pacino e outros atores.
"Bob [de Niro] disse-me que teríamos de rejuvenescer toda a gente se esperássemos mais dois anos", explicou a rir.
O realizador de "Taxi Driver", "Touro Enraivecido" e "Tudo Bons Rapazes" confessou que sonhava filmar uma cena num bar do velho Oeste, mas a longa-metragem decorre na época da "Lei Seca".
"Imaginei grandes cenas num saloon, mas não foi possível", explicou.
"Cheio de perseverança"
Os elogios ao realizador choveram de toda parte desde a estreia do filme, no sábado à noite, e os seus atores não ficaram trás.
Scorsese está cheio de "perseverança e fúria para contar a verdade, por mais feia que seja", afirmou DiCaprio, que interpreta Ernest Burkhart, que se casa com uma indígena, Mollie (a atriz indígena Lily Gladstone) e é manipulado pelo seu tio milionário, interpretado por Robert De Niro, para ficar com o dinheiro dela.
Na opinião de Scorsese, os EUA "continuam a ser um país jovem, [que] ainda sofre com as feridas da juventude. E este filme é uma forma de reconhecer isso", assegurou.
"Sou de uma época, a América dos anos 1950, em que não se podia dizer muitas coisas", até que uma nova geração de cineastas "enfrentou estes temas".
Scorsese conseguiu fama mundial com os seus filmes sobre a máfia, as consequências da guerra no Vietname, a imigração e os assassinatos famosos.
"Nasci numa família de imigrantes [de origem italiana]... Encontrei as minhas primeiras informações na rua e depois no cinema. Os filmes levaram-me à música e aos livros", explica.
"Vamos mostrar a história tal como ela é e vamos ver o que acontece", acrescentou, dando o recado para as próximas gerações.
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