O FEST – Festival Novos Realizadores, Novo Cinema arranca na segunda-feira em Espinho, comemorando os seus 20 anos com a exibição de aproximadamente 250 filmes dirigidos numa proporção de homens e mulheres em “paridade quase total”.
Fernando Vasquez é o diretor desse certame do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto e afirmou que a referida tendência já se fazia notar em edições anteriores, mas assume este ano uma dimensão mais evidente, tanto ao nível da realização como das temáticas abordadas.
“Há uma tendência clara para cada vez recebermos mais filmes realizados por mulheres e com temas femininos, e o FEST até é privilegiado nessa matéria, porque foi testemunhando essa evolução de ano para ano, de forma natural”, declarou à agência Lusa o diretor do evento.
O cinema feminino revela-se assim “mais interessante, porque, mesmo quando revisitado, adota sempre uma perspetiva diferente, mais original e mais fresca”.
No festival de 2024, em concreto, muitas das obras em competição até 1 de julho evocam aspetos relacionados com a maternidade, como é o caso no filme “Leite”, em que a neerlandesa Stefanie Kolk conta a história de uma mulher que perde o bebé pouco antes do parto e, com o corpo preparado para amamentar, enfrenta questões complexas na tentativa de doar o seu leite.
O filme de abertura do FEST, “Filhos”, do dinamarquês Gustav Möller, também reflete sobre o comportamento de uma funcionária prisional que passa a ter à sua guarda o responsável por um crime contra o seu próprio filho.
Já no registo documental, outra obra que explora a experiência materna é “Depois da ponte”, em que Davide Rizzo e Marzia Toscano acompanham a italiana Valeria Collina nas primeiras horas após descobrir que o seu filho foi um dos três jihadistas responsáveis pelo atentado terrorista de Londres em 2017.
Com idêntico espírito paternal, a componente não-competitiva do FEST é em 2024 totalmente dedicada a realizadores que nos últimos 20 anos passaram pelo Pitching Forum do evento – rubrica que apresenta projetos em fase de conceção a potenciais investidores e apoiantes – e que atualmente têm os respetivos filmes em exibição.
É o caso da longa-metragem “Fahra”, da jordana Darin J. Sallam, que em Espinho conseguiu parte do financiamento para a obra. “O filme aborda a experiência de uma menina palestiniana durante a criação do estado de Israel e o governo desse país está agora a tentar censurá-lo na
Netflix”, realça Fernando Vasquez.
Outro realizador que regressa ao festival depois de aí ter obtido apoio para um dos seus projetos é António Sequeira, com o filme “A minha casinha”, que venceu o prémio do público no Festival de Cinema de Austin, nos Estado Unidos, graças à história de uma família portuguesa em que o filho vai estudar para Londres, os pais entram na crise da meia-idade e a filha mais nova receia contar-lhes que também quer emigrar.
Mantendo as sessões de ‘pitching’, o programa do 20.º FEST aposta ainda no seu habitual programa de formação para profissionais – com oradores de renome mundial como a atriz americana Melissa Leo e o editor grego Yorgos Lamprinos – e em atividades paralelas como exposições, sessões infantis, ‘showcases’ de música “com identidade cinematográfica” e jantares de ‘networking’.
Para Fernando Vasquez, o objetivo do festival é continuar a acompanhar os diferentes progressos do setor audiovisual e refletir sobre as consequências dessas mudanças em profissionais e espectadores.
“Nestes 20 anos de FEST o mundo do cinema nunca parou de mudar radicalmente e prosseguiu um pouco sem rumo”, disse o diretor do certame. “O que desejamos para as próximas duas décadas é que ele encontre o seu caminho, de forma a que tecnologias como a Inteligência Artificial e os hábitos das novas audiências encontrem o equilíbrio que permita ao cinema voltar a ser a forma dominante de imagem em movimento”, concluiu.
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