11 de julho
Uma recomendação: não é de confiar totalmente nos comunicados de imprensa que andar a sair noticiando um "triunfante regresso" como realizador de Sean Penn à Croisette, cinco anos após a ridicularização de "The Last Face - A Última Fronteira", protagonizado por Charlize Theron e Javier Bardem.
De facto, o novo filme recebeu aplausos durante longos minutos enquanto os créditos finais ainda rodavam na grande tela do Grande Teatro Lumière, com a presença de Sean Penn e da sua filha e protagonista, Dylan Penn. Mas convém afirmar que este tipo de ovação é mera cordialidade, porque na sala ao lado, na DeBussy, onde decorria o visionamento de imprensa, a reação foi exatamente a oposta. Mais uma vez, o realizador e ator foi gozado por um público de jornalistas e críticos no largo deste Mediterrâneo.
"Flag Day", filme pessoal onde Sean Penn também contracena com a filha, é um ensaio falhado de emocionalidade. Martirológio, lamechas e desfigurado por uma interminável "playlist" de videoclipes.
Para um homem que nos entregou "coisas" mais sóbrias como "A Promessa" (2001) ou o encantador "O Lado Selvagem" (2007), esta é uma "prenda envenenada", pobre em toda a sua execução (além de sufocado pela sua estética), repleta de clichés de terceiro grau e demasiado provinciano. Os diálogos parecem ter sido escritos às três pancadas e conquistam gargalhadas embaraçosas.
Os apupos fizeram-se ouvir e confirmaram o pior dos cenários: mais um fiasco dramático de Sean Penn. Não há volta a dar.
Concorrendo também à Palma de Ouro e com resultados menos pomposos e emocionalmente mais terno, também chegou Nanni Moretti e o seu "Tre Piani", com três andares, três histórias em três passagens temporais, de três famílias cujas tramas se cruzam em apenas três momentos, adquirindo autonomia e força própria.
Novamente, o realizador italiano lida com a ausência e a paternidade de uma maneira que parece trair o que havia criado no premiado com a Palma "O Quarto do Filho" (2001), mas a aparência fica-se por isso mesmo, a solidão afigura-se no seu cinema como um espectro resistente.
Este não é certamente um grande filme de Moretti e para muitos será apenas mais uma tacada precisa do seu estilo e com as "farpas" políticas a que nos habituou, mas é evidentemente um filme humano, aquilo que Sean Penn pretendia e não alcançou por culpa da sua desvairada ambição. O italiano esbofeteou o galã de Hollywood em três tempos!
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