De
«O Fiel Jardineiro», de
Fernando Meirelles, a
«Hotel Ruanda», de
Terry George, passando por
«Shooting Dogs - Testemunhos de Sangue», de
Michael Caton-Jones ou
«A Intérprete», de
Sidney Pollack, têm surgido, nos últimos tempos, vários filmes que se debruçam sobre questões problemáticas do continente africano.
«Diamante de Sangue» é um deles e desenrola-se nos bastidores do tráfico de diamantes, em particular durante a guerra civil na Serra Leoa, em 1999.

A acção segue o percurso de um pescador, cuja aldeia foi invadida por rebeldes e que tenta reencontrar a sua família, e de um mercenário, que o ajuda nessa busca em troca do seu novo companheiro de viagem lhe revelar onde escondeu uma pedra preciosa que descobriu quando trabalhava como escravo.

Edward Zwick realiza um filme de óbvia vertente humanista, denunciando os jogos de poder praticados pelos governantes de alguns países africanos, assim como a forma estratégica como recorrem à comercialização de bens procurados pelos ocidentais de forma a manterem um ambiente bélico dentro de portas.

Esta consciência social é, de resto, um hábito recorrente na filmografia de Zwick, que já focou os conflitos raciais (
«Tempo de Glória»), a Guerra do Golfo (
«Coragem Debaixo de Fogo») ou as relações entre o ocidente e o oriente (
«O Último Samurai»). Raramente o faz, contudo, de forma especialmente complexa ou estimulante, apresentando trabalhos quase sempre competentes mas nunca geniais. «Diamante de Sangue» não é excepção, alicerçando-se num argumento algo formulaico e previsível, colocando questões relevantes ao espectador mas avançando também com as respostas, deixando pouco espaço para a ambiguidade.

Em parte, Zwick oferece aqui um «filme de mensagem» que não difere muito de outros tantos que Hollywood gosta de fabricar ocasionalmente e onde a perspectiva é não raras vezes linear. Não faltam aqui diálogos expositivos nem sequer a quase omnipresente banda sonora de travo «world music» (composta por um James Newton Howard em modo meloso), mas felizmente há também momentos interessantes quando
«Diamante de Sangue» deixa de lado a sua carga panfletária e aposta naquilo que tem de melhor: a sua componente de filme de aventuras.

Quando não perde tempo com planos de postal ilustrado (ainda que contem com a excelente fotografia de Eduardo Serra), o realizador mostra-se eficaz em sequências de acção ambientadas em cenários tão belos quanto inóspitos, e mesmo quando a verosimilhança é colocada em causa o resultado não deixa de ser empolgante.

Outro factor que compensa o academismo do filme é o elenco, encabeçado por um trio de actores já com provas dadas e que concede às personagens mais espessura dramática do que a que o argumento lhes destinaria. Se
Djimon Hounsou é apenas competente, não podendo fazer muito mais para defender uma personagem demasiado genérica (quantos filmes já recorreram ao cliché do nativo africano humilde e de bom coração?),
Jennifer Connelly consegue compor a típica jornalista idealista com um carisma e espontaneidade acima da média, mas é
Leonardo DiCaprio que torna esta numa obra um pouco mais do que razoável. O actor, que em
«The Departed: Entre Inimigos», de
Martin Scorsese, tinha proporcionado um desempenho inatacável, mantém-se aqui quase ao mesmo nível na pele do mercenário Danny Archer, conciliando arrogância, egoísmo e alguma esperança na grande personagem de
«Diamante de Sangue» (justificando assim a sua nomeação para o Óscar de Melhor Actor Principal).

É pena que Zwick nem sempre aproveite o elenco e a temática do filme da melhor forma, já que Connelly merecia mais tempo de antena e a carga edificante que sobressai ao longo da acção atinge o auge nos minutos finais (e perfeitamente dispensáveis), num desenlace tão politicamente correcto que quase deita por terra o que de bom a película tem para oferecer. O balanço é, ainda assim, positivo, embora também algo frustrante pois estas mais de duas horas poderiam ter resultado num
«Diamante de Sangue» de quilate muito superior.