Um filme sobre o amor, sobre o casamento e sobre as parcerias entre marido e mulher. Um filme que quebra com a imagem das Caxinas «bairro» e «de luto». O novo filme de
João Canijo centra-se nas mulheres dos mestres de pesca das Caxinas, Vila do Conde.
Às 10h em ponto, encontramos Sónia Nunes à porta da Igreja dos Navegantes, no centro das Caxinas. O dia de sol e calor fez encher de movimento a marginal de Vila do Conde e é mesmo lá que nos sentamos a conversar com ela.
Além de estar habituada às câmaras – a sua presença tornou-se normal durante a rodagem do filme
«É o amor» –, Sónia também já está habituada a dar entrevistas. Desde que o filme de João Canijo começou a ser divulgado, ela tem sido uma das atrizes mais procuradas.
«Quero ser simpática e agradar às pessoas», diz ao SAPO Cinema. Simpatia e espontaneidade não lhe faltam, características que foram fundamentais quando participou no casting que antecedeu o filme. Há cerca de um ano, Sónia foi contactada pela Associação de Pescadores das Caxinas para participar numa entrevista para um filme que queria «homenagear as mulheres dos mestres», explica.
«Normalmente costumam homenagear o homem do mar, o homem valente, mas aqui quiseram homenagear as mulheres em terra», refere Sónia, que é uma «mestra» em terra, enquanto o seu marido, Zé, é um mestre no mar.
«O nosso papel não é só ser esposa, o nosso papel é ser mãe, dar educação aos nossos filhos, temos que ter a casa limpinha para quando eles chegarem. Nós somos umas sócias dos nossos maridos, eles no mar, nós em terra», explica Sónia sobre a sua «obrigação» enquanto esposa, que também passa por tratar dos negócios ligados à pesca, como vender o peixe ou pagar os empregados.
Voltando à divulgação do filme, que estreou nas salas de cinema no dia 25 abril, Sónia coloca um sorriso nos lábios e diz que a família está «babada» e que está «sempre a receber mensagens». O filme teve a sua apresentação no Festival Indie Lisboa e levou pela primeira vez Sónia Nunes à capital. «Achei as pessoas de Lisboa muito simpáticas e gostei do acolhimento», realça. Quando começou o filme, Sónia ficou satisfeita com a «reação» do público, que se ria dos seus «comentários» e «graçolas», conta.
De volta às Caxinas - três dias em Lisboa foram suficientes para ficar com saudades do «seu mundo»-, Sónia considera que o filme mostra um outro lado desta freguesia de pescadores.
«As pessoas associam sempre Caxinas a um bairro, Caxinas é sempre filmado com os homens a beber, com as pessoas pobres, onde há sempre luto», afirma. «Quando o João Canijo chegou cá e achou que ia dar com umas mulheres de mestre de idade mais avançada, acabou por ver mulheres de mestre com unha pintada, que vão ao cabeleireiro, preparam-se, cuidam-se», explica.
«Acho que o filme mostra as mulheres mais modernas e quebra a imagem do passado», conclui Sónia, que, depois da entrevista nos levou a conhecer alguns recantos da sua «terra», sempre atenta ao telefonema do marido, que poderia chegar da pesca em Aveiro naquela tarde. Quando o telemóvel tocasse, Sónia diria «adeus» ao papel de atriz, para voltar à vida de mestra e peixeira, da qual tem «muito orgulho» e que agora todos podem conhecer em «É o amor».
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