Dançar com um ator é "a forma ideal de quebrar o gelo" na rodagem de cenas de sexo, declarou esta terça-feira Daniel Craig, protagonista do novo filme de Luca Guadagnino "Queer", que contém cenas explícitas de um casal homossexual.
Apresentado na competição do Festival de Veneza, a produção baseia-se no conto homónimo do escritor norte-americano William S. Burroughs (1914-1997), sobre a paixão entre dois expatriados dos EUA no México na década de 1950.
“É sobre amor, é sobre perda, é sobre solidão, é sobre saudade, é sobre todas essas coisas”, disse Daniel Craig na conferência de imprensa.
“Se estivesse a escrever um papel para mim mesmo e quisesse marcar as coisas que queria fazer, isto cumpriria todas”, acrescentou aos jornalistas.
O ator, que fechou em 2021 o seu período como James Bond após quase 15 anos, interpreta um americano rico que mora sozinho na Cidade do México, um alcoólico e viciado em heroína que procura avidamente por homens em bares.
Ele conhece um jovem (Drew Starkey) por quem se apaixona e convence-o a acompanhá-lo numa viagem pela América do Sul em busca de uma planta alucinógena, a ayahuasca.
"Há uma parte da coreografia no filme que é muito importante. Drew e eu passámos meses a ensaiar antes de começar a filmar. Dançar com alguém durante meses é o ideal para partir o gelo", declarou Craig na conferência de imprensa.
"Não há nada de íntimo em filmar uma cena de sexo num set, a sala está cheia de pessoas a olhar para nós. Queríamos apenas fazer com que fosse o mais comovente, real e natural possível. Rimos muito", acrescentou.
O seu companheiro de cena, Drew Starkey ("A Outra Zoey" e da série "Hellraiser"), completou: "Rebolar pelo chão com alguém, apenas dois dias depois de lhe ter sido apresentado, é uma boa forma de nos conhecermos melhor".
Considerado um dos pais da geração beat, Burroughs deu notoriedade a um estilo de escrita fraturado e visual, com romances como "Naked Lunch" (1959).
Escrita no início dos anos 1950, mas colocada na gaveta pelo escritor, que só foi convencido a publicá-la em 1985, a obra foi censurada à época pelo seu estilo direto ao descrever as relações entre os protagonistas.
"Quando li o livro, era um miúdo solitário em Palermo", lembrou Guadagnino ("Chama-me Pelo Teu Nome") aos jornalistas.
"Fiquei fascinado: o romance, a ideia de aventura no amor... Queria ser fiel àquele miúdo e que o público se perguntasse no final: quem és quando estás sozinho na cama?", acrescentou.
O realizador diz que se sentiu atraído pela “ideia de ver as pessoas e não julgá-las... de ter certeza de que mesmo a pior pessoa é aquela com quem nos identificamos".
“É tão puramente humano e esse deveria ser o trabalho do cineasta, encontrar a humanidade nos recantos escuros e nos mais iluminados”, disse.
De acordo com Guadagnino, Craig trouxe uma “fragilidade” ao papel do angustiado Lee. O realizador descreveu isso como uma "capacidade de ser muito mortal no ecrã" e disse que "muito poucos atores lendários icónicos permitem que essa fragilidade seja vista".
Este é o segundo filme de Guadagnino este ano, após "Challengers", com Zendaya, cuja antestreia mundial era para ter sido em Veneza no ano passado, canceladas pela greve dos atores de Hollywood.
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