O realizador de cinema israelita, Amos Gitai, autor de filmes sobre extremismo e conflitos no seu país, vê a COVID-19 como uma "guerra contra um inimigo invisível" que exige uma "pausa" para repensar o nosso modo de vida, explicou numa entrevista à AFP.

O cineasta estava em Nova Iorque para a exibição de alguns dos seus filmes no Museu de Arte Moderna (MoMA) quando a pandemia começou a espalhar-se da Ásia até à Europa e Estados Unidos.

Nascido em 1950 em Haifa (norte de Israel), dois anos após a criação do Estado, o cineasta viveu várias guerras, entre elas a do Kippur em 1973. Foi ferido quando viajava num helicóptero que foi atingido por um míssil sírio e ficou à beira da morte.

Deste trauma nasceu uma nova vocação artística para quem estava decidido a seguir os passos do pai e tornar-se arquiteto: o cinema documental e de ficção.

Distância crítica

Amos Gitai faz parte dos 200 artistas e cientistas que assinaram a petição "Não à volta da normalidade", iniciada no início de maio pela atriz francesa Juliette Binoche e que pede uma "revisão profunda dos objetivos, valores e das economias" das nossas sociedades e, principalmente, do capitalismo.

"É normal preocupar-se com os problemas imediatos mas, às vezes, em tempos de crise, é bom aproveitar o momento para tentar encontrar um pouco de perspetiva", confessa Gitai, que se revolta com os excessos do capitalismo e do consumo exacerbado que, segundo ele, destroem o planeta.

"A primeira coisa é garantir uma boa saúde, mas é preciso perguntar-se qual é a mensagem indireta deste vírus para a humanidade de um modo mais geral, por exemplo, a destruição do meio ambiente", continua.

No "mundo do depois", é preciso tentar não voltar aos modos de vida que "destroem a Amazónia. É preciso manter o ânimo e as boas energias, pois precisaremos quando as coisas retomarem o seu rumo", reforça.

O cineasta está a tentar manter-se "produtivo" durante a quarentena e trabalha num livro, exercício que, defende, o silêncio e a ausência de mobilidade impostos favorecem.

Também lê e, mesmo estando confinado na França, de onde não conseguiu voo para Israel, acompanha assiduamente a atualidade do seu país.

Amos Gitai mantém relações conflituosas com as autoridades israelitas, especialmente com a direita política.

Em setembro de 2018, criticou o governo de Benjamin Netanyahu por considerar, segundo o realizador, que a "cultura é propaganda". Com a permanência do primeiro-ministro no poder pelo governo de união aprovado no domingo, teme pela "sociedade aberta" israelita e as suas instituições.

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