A tarefa dos artistas é "iluminar o mundo", declarou esta sexta-feira o cineasta norte-americano Francis Ford Coppola em Cannes, onde apresentou na quinta-feira "Megalopolis", filme que está na disputa pela Palma de Ouro e que dividiu a crítica.

O filme apresenta a história de um arquiteto ambicioso e visionário, obcecado em reconstruir uma Nova Iorque com ares imperiais, perante a oposição do presidente da câmara, num contexto de decadência política e moral nos EUA.

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Questionado numa conferência de imprensa sobre a atual situação política no seu país, Coppola afirmou que "há o risco de perder a República", como aconteceu na Roma clássica.

"Há uma tendência no mundo, como se estivéssemos a seguir para uma nova direita, até mesmo para o fascismo", alertou o cineasta de 85 anos.

"Mas a minha impressão é que os políticos não são tão relevantes" como se pensa, declarou a pessoa que fez "O Padrinho".

"Acredito que cabe aos artistas iluminar o mundo", acrescentou o veterano.

O cineasta estava acompanhado de atores do filme, como Adam Driver, que interpreta o arquiteto, e que, segundo Coppola, o ajudou na montagem do filme.

"Megalopolis" é um filme com mais de duas horas de duração, que levou décadas para ser produzido, com um orçamento de quase 120 milhões de dólares (110,58 milhões de euros à cotação do dia).

Algumas publicações americanas elogiaram o filme, que mistura política, filosofia, ficção científica e números musicais, mas a reação da crítica na Europa foi maioritariamente hostil.

"Foi como fazer teatro experimental, e isso transformou-o em algo rebelde e emocionante", disse Adam Driver.

O jornal britânico The Guardian considerou o filme "muito chato", enquanto o jornal espanhol El Mundo publicou como título da crítica: "Coppola cai do céu".

O cineasta de "Apocalypse Now", vencedor de duas Palmas de Ouro, também revelou que está a trabalhar num novo projeto.

Coppola investiu boa parte da sua fortuna na produção de "Megalopolis", que conta ainda com estrelas como Jon Voigt, Aubrey Plaza e Nathaniel Emmanuel no elenco.

"O dinheiro não é importante, o que é importante são os amigos", disse.

Os seus filhos Roman, que estava na conferência de imprensa, e Sofia Coppola, realizadora de prestígio, "já têm carreiras magníficas, sem necessidade de uma fortuna", acrescentou.