O ator português
Pedro Hestnes, que morreu a 20 de junho, aos 49 anos, vítima de cancro, é objeto a partir de hoje de uma retrospetiva na
Cinemateca Portuguesa, em Lisboa. «Faça de Mim o que Quiser» é o título do ciclo, porque «era esta a primeira frase proferida por Pedro Hestnes em
«O Sangue»», filme de
Pedro Costa que abre hoje a retrospetiva, às 19h00.

«Poucas vezes como nessa cena, no cinema português ou fora dele, um ator pareceu tão frágil e tão desprotegido e, ao mesmo tempo, no tom e no olhar com que dizia essas palavras, um tom e um olhar onde se misturavam o abandono e o desafio, tão vertical e tão intocável», considera a direção da Cinemateca, justificando assim a escolha da frase para título do ciclo.

«Acreditamos que, com ela, nos aproximamos do que foi a personalidade, a presença, o código de Pedro Hestnes enquanto ator de cinema. A máxima disponibilidade, a máxima resistência: o tipo de fricção capaz de gerar eletricidade suficiente para, por si mesma, iluminar um ecrã», acrescenta um texto publicado na página oficial.

Para os responsáveis da Cinemateca, «no cinema português dos últimos 25 anos, poucos rostos terão sido tão marcantes, e deixado um traço tão fulgurante» como o de Pedro Hestnes.

Filho do arquiteto Raul Hestnes Ferreira e neto do escritor José Gomes Ferreira, Pedro Hestnes participou em alguns dos filmes mais importantes do cinema português de finais dos anos 1980, começo dos anos 1990, entre os quais «O Sangue» (1989), que protagonizou com
Inês de Medeiros, e
«Xavier» (1992), de
Manuel Mozos.

Ator discreto, responsável por «alguns dos mais belos planos do cinema português», como disse o realizador
Fernando Vendrell, Pedro Hestnes entrou ainda em «O Desejado» (1987), de
Paulo Rocha, «Três Menos Eu» (1988), de
João Canijo, «Agosto» (1988), de
Jorge Silva Melo,
«A Idade Maior» (1991), de
Teresa Villaverde, e «Três Palmeiras» (1994), de
João Botelho.

Mais recentemente integrou, por exemplo,
«Body Rice» (2006), de
Hugo Vieira da Silva, e
«Lobos» (2007), de
José de Nascimento. E tinha acabado de rodar o filme «Em Segunda Mão», de
Catarina Ruivo.

«Entre filmes muito conhecidos e filmes muito desconhecidos», a Cinemateca vai mostrar «o que o cinema quis fazer» de Pedro Hestnes – «Que foi tanto. E que devia ter sido ainda tanto mais».

As retrospetivas da Cinemateca

As retrospetivas sobre
Raúl Ruiz e
Nicholas Ray vão começar ainda este ano, mas serão apresentadas «em duplex», prolongando-se por 2012, explicou à Lusa a diretora da Cinemateca,
Maria João Seixas.

No arranque da temporada 2011/2012, a Cinemateca retoma as cinco sessões diárias de cinema, que estavam suspensas desde abril, e aumentou o preço dos bilhetes em 50 cêntimos, passando a custar três euros.

Outro dos destaques para setembro é a homenagem a
Gérard Castello-Lopes, fotógrafo e distribuidor de cinema que morreu em fevereiro. A Cinemateca vai mostrar alguns dos trabalhos em que ele participou e também «cinco ou seis filmes da sua vida», referiu Maria João Seixas.

Ainda em setembro, o programador francês
Jean-Pierre Rehm, atual diretor do FidMarseille, receberá «uma carta branca» da Cinemateca, que começará também uma nova rubrica regular, «Histórias do Cinema». Neste âmbito está já confirmada a participação do «grande historiador e crítico de cinema»
Bernard Eisenschitz, para apresentar um programa sobre Charles Chaplin, e há a hipótese de vir também Luciano Berriatúa, especialista em
Murnau e em restauro de filmes, indicou a diretora.

A Cinemateca programará também ao realizador francês
Jean Rouch, em colaboração com o DocLisboa, e fará uma retrospetiva sobre
Anouk Aimée, com «10 ou 15 filmes», em parceria com a Festa do Cinema Francês, estando confirmada a presença da atriz francesa em Lisboa nessa altura.


Veja aqui a programação completa da Cinemateca Portuguesa.

@Lusa