Em grande parte esquecida nos ‘sets’ de filmagem, a questão do bem-estar animal é lembrada por um estudo realizado em França, que insta a Sétima Arte a “trabalhar de forma diferente”.
Embora os créditos finais indiquem frequentemente que “nenhum animal foi maltratado nesta filmagem”, a realidade descrita por 56 profissionais de cinema (realizadores, encenadores ou argumentistas) neste estudo encomendado pela ARA, um sindicato de realizadores francês, é menos lisonjeira.
“Não temos nada para os animais em termos de enquadramento jurídico, nenhuma regulamentação e nenhuma verificação”, lamentou na quarta-feira Corinne Lesaine, veterinária que deu origem ao estudo, à agência France-Presse (AFP).
O estudo foi realizado entre outubro e fevereiro, através de um questionário enviado a profissionais do cinema (cinema, audiovisual ou publicidade) e depoimentos sobre 56 filmes rodados em França com 506 animais.
Em mais de metade dos depoimentos recolhidos, o animal foi colocado em situação de medo ou angústia e, num terço, as filmagens ocorreram sob coação.
Um quinto das testemunhas denuncia também o confinamento de um animal numa jaula inadequada à espécie, e menos frequentemente a sua fixação por laços numa posição dolorosa, ou o uso de tranquilizantes ou anestésicos para simular, por exemplo, um morto.
Alguns, ao contrário, colocam o bem-estar animal no centro do filme, como a comédia “O Julgamento do Cão” (“Le Procès du chien”), em francês, que estreia nos cinemas no dia 11 de setembro.
A sua realizadora, Laetitia Dosch, apresenta uma advogada pronta para fazer qualquer coisa para salvar o seu cliente de quatro patas, condenado à eutanásia após uma dentada.
O papel do cachorro é interpretado por Kodi e o argumento foi reescrito “de acordo com ele”, frisou.
"Quando as pessoas me disseram que ele não poderia fazer um ação, eu alterei-a. Assim que ele não se estava a sentir bem, parámos”, garantiu.
Em 2018, o realizador Nicolas Vanier foi alvo de uma denúncia da associação France Nature Environnement após a destruição de 500 ovos de flamingo cor-de-rosa durante a filmagem do seu filme “Dá-me asas” (“Donne-moi des ailes”, com 1,5 milhões de bilhetes vendidos).
Nos Estados Unidos, “A Vida de Pi” ("Life of Pi", em inglês), lançado em 2012, foi fortemente criticado após revelações do Hollywood Reporter que apontavam que o tigre de Bengala, utilizado para determinadas cenas, “quase se afogou”.
Uma lei de 2021 sobre abuso de animais planeia proibir a manutenção e exibição de animais selvagens em circos itinerantes em França até 2028. De momento, as filmagens não são afetadas.
Entre as áreas de melhoria consideradas, o uso de efeitos especiais pode ajudar a colocar os animais no elenco sem perigo para estes.
Em 2019, o remake de “O Rei Leão” utilizou imagens geradas por computador muito realistas dos animais da savana.
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