O espaço doméstico, enquanto local de trabalho, de família, de socialização ou reclusão, é o tema transversal a um ciclo de filmes que o Batalha – Centro de Cinema acolhe durante o mês de março, no Porto.
O ciclo temático, que começa no dia 8, tem por título “Domesticidades” com filmes feitos entre 1966 e 2019 que abrem um debate “sobre trabalho doméstico, prestação de cuidados, laços familiares, intimidade, amor, comunidade e direito ao ócio e à habitação”, lê-se na nota de apresentação.
“Fazendo uso da ficção, do documentário, e do cinema experimental, o programa confronta-nos com as nossas próprias domesticidades, convidando-nos a refletir sobre a ideia de ‘casa’: o que nela acontece e que relações emocionais e de poder pode acolher”, explica o Batalha.
O ciclo abre com a curta-metragem documental “Semiotics of the Kitchen” (1975), no qual a realizadora Martha Rosler surge, de avental, a enumerar por ordem alfabética vários instrumentos de trabalho doméstico.
Na mesma sessão, será exibido “Que fiz eu para merecer isto?”, filme “trágico-cómico” de Pedro Almodóvar de 1984, em que “o lar é apresentado não como um espaço de conforto, mas como uma teia de ansiedades e ameaças”.
Até 31 de março, o Batalha propõe, entre outros, o filme brasileiro “Doméstica” (2012), feito a partir de um convite do realizador Gabriel Mascaro a sete adolescentes para que filmassem as empregadas domésticas das suas casas.
O filme é um retrato polifónico de “mulheres negras, cuja classe social, educação, raça e género se afiguram como fatores que lhes impõem elevados níveis de desigualdade”.
Destaque ainda para a inclusão dos filmes “Jeanne Dielman, 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles”, de Chantal Akerman, e “Isto não é um filme” (2011), de Jafar Panahi.
O filme de Chantal Akerman, de 1975, inspira-se nas vivências da mãe, exilada em Bruxelas depois da Segunda Guerra Mundial. Foi considerado o melhor filme de todos os tempos pela revista Sight & Sound na mais recente sondagem feita junto de críticos e figuras do meio.
“Isto não é um filme” é um documentário, correalizado por Mojtaba Mirtahmasb, que regista a reclusão forçada do dissidente iraniano Jafar Panahi em casa, enquanto preparava um novo filme.
O ciclo “Domesticidades” contém também cinema português, nomeadamente com os documentários “Casas para o povo” (2010), de Catarina Alves Costa, sobre construção de habitações para famílias de baixo rendimento no Porto nos anos 1970, e “Tempo Comum” (2018), de Susana Nobre, sobre as mudanças da vida doméstica de uma família com a chegada de um bebé.
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