A dupla sexagenária mais atraente de Hollywood, Brad Pitt e George Clooney, chegou ao Festival de Cinema de Veneza no domingo pronta para "uivar" no seu novo filme "Lobos Solitários", enquanto o realizador brasileiro Walter Salles apresentou o seu drama "Ainda Estou Aqui", ambientado nos anos da ditadura militar, com Fernanda Montenegro.
Com direito a 10 minutos de aplauso na antestreia, "Ainda estou aqui" é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva que conta o trauma vivido pela sua família quando o pai, Rubens Paiva, ex-deputado e engenheiro de esquerda, desapareceu em janeiro de 1971 no Rio de Janeiro.
A sua esposa, Eunice, também foi detida e passou 12 dias sob interrogatório.
Interpretada por Fernanda Torres, e depois por Fernanda Montenegro na velhice, Eunice é a mulher que não desiste na busca pelo marido, sem abandonar a educação dos filhos.
"A história de Eunice confunde-se com a do Brasil naqueles anos horríveis que vivemos", lembrou Salles aos jornalistas.
"Ela não queria chorar na rua com a família. Ela não queria que os filhos fossem vítimas da ditadura. E a maneira como ela decidiu fazer isso foi com silêncio e um sorriso", refletiu Fernanda Torres na conferência de imprensa.
Salles é um dos realizadores brasileiros que construíram carreira dentro e fora do seu país. O seu grande sucesso foi "Central do Brasil" (1988), vencedor do Urso de Ouro e de Prata na Berlinale e com Fernanda Montenegro.
As suas incursões fora do Brasil incluem "Pela Estrada Fora" (2012), adaptação do romance de Jack Kerouac, e "Diários de Che Guevara" (2004), sobre o mito de Che Guevara, interpretado por Gael García Bernal.
'Bater na cara'
Com a tranquilidade de participar fora de competição e dispostos a trazer um pouco de leveza e humor para Veneza, Pitt e Clooney interpretam em "Lobos Solitários" dois tipos que precisam limpar a cena de um crime, sem saber que a situação em breve se tornará caótica.
"Assim que li o argumento e coloquei os pés no set, soube que aquele tipo de relaxamento, a maneira como gozamos um do outro, iria funcionar", explicou Clooney na conferência de imprensa antes da estreia.
Depois vieram as piadas. "
Ele tem 74 anos e nessa idade tem sorte de ainda estar a trabalhar", disse Clooney sobre o seu amigo e companheiro (que, na verdade, tem 60 anos), com quem filmou sucessos como a trilogia "Ocean´s Eleven".
O objetivo era poder "bater na cara dele" durante o filme, respondeu Pitt. Mas esse trecho "foi cortado" na montagem, respondeu Clooney.
O filme com um orçamento de 200 milhões de dólares dirigido por Jon Watts, que assinou três “Homem-Aranha”, recebeu cinco minutos de aplausos e a seguir críticas mornas. Seis semanas antes de um anunciado lançamento nos cinemas a nível mundial, a Apple recuou: será exibido em algumas salas dos EUA a 20 de setembro antes de um lançamento global uma semana depois em streaming, com o serviço a revelar ao mesmo tempo que deu luz verde a uma sequela.
Um filme demorado
O festival chegou quase à metade com 21 filmes concorrendo ao Leão de Ouro, seleção que alterna produções com grandes estrelas (o 'thriller' erótico "Babygirl" protagonizado por Nicole Kidman ou "Maria" com Angelina Jolie), experiências cinematográficos ("El Jockey", do argentino Luis Ortega) e filmes europeus de tom social (o francês "Leurs enfants après eux").
"The Brutalist" contém um pouco de experimentalismo, amor, sexo brutal e história contemporânea, mas, acima de tudo, é um manifesto a favor da independência e tenacidade do artista, servido por atores como Adrien Brody, Felicity Jones, Joe Alwyn, Alessandro Nivola, Jonathan Hyde e Guy Pearce.
"É a história de uma personagem que foge do fascismo para encontrar o capitalismo", lançou ena conferência de imprensa o seu realizador, Brady Corbet, ator que filmou sob as ordens de mestres como Lars von Trier e já dirigiu "A Infância de um Líder" (2015) e "Vox Lux" (2018).
Corbet demorou sete anos para filmar este filme demorado, de 205 minutos, rodado em capítulos, em 70mm e ainda com uma pausa de 15 minutos para o espectador, muito bem recebido em Veneza.
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