Desde a primeira hora que o norte-americano
Barry Sonnenfeld é o responsável pela série
«MIB - Homens de Negro» no cinema. Adaptada de uma banda desenha muito pouco conhecida da Malibu Comics, a série dos agentes que controlam a presença dos alienígenas nas Terra foi um sucesso surpresa quando chegou pela primeira vez ao grande ecrã em 1997, com um cruzamento invulgar e sedutor de comédia e ficção científica. Em 2002, o cineasta assinou a inevitável
sequela, mas a recepção de crítica e público foi mais reduzida.
Sonnenfeld, realizador de películas como
«A Família Addams» ou
«Wild Wild West», volta agora à carga com um
terceiro filme da série, com um conceito original: e se o Agente J (
Will Smith) voltasse a 1969 para salvar o Agente K (Tommy Lee Jones)? E, sendo assim, porque não colocar
Josh Brolin a encarnar o Agente K em novo?
O regresso aos Homens de Negro após 10 anos
Não faço ideia porque é que o terceiro filme levou 10 anos a estrear, terá de perguntar aos produtores ou aos estúdios. Pessoalmente, acho que depois do segundo filme, com o qual não ficámos muito satisfeitos, não sabíamos se haveria outra história que merecesse a pena ser contada ou se faria sentido voltar à série. E com os anos a passar, acho que o estúdio percebeu que ainda havia muita gente a adorar a saga, perdoou-nos pelo que fizemos mal no «Homens de Negro 2» e ficou interessado em fazer um terceiro filme.
A ideia da viagem no tempo
O Will sempre teve esta ideia, que envolvia uma viagem no tempo, em que ele teria de voltar para trás e salvar a personagem do Tommy Lee Jones. O argumentista, o
Etan Cohen, sugeriu o ano de 1969 e eu achei ótimo porque adoro a música da época e porque foi nessa altura que os humanos primeiro viajaram para além da sua atmosfera e tentaram ir para outro corpo planetário. Aquilo que não me interessava em 1969 eram as drogas e os hippies, e mesmo o racismo que lá colocamos é relativamente reduzido e está associado à personagem do Will.
Os erros de «Homens de Negro 2»
Acho que o segundo filme foi um sucesso de bilheteira mas nós não ficámos muito satisfeitos com ele. Eu gosto de todos os filmes que realizei, são todos meus filhos, mas é como na vida: alguns vão para a faculdade, outros nem chegam a terminar o liceu, mas amamo-los a todos à mesma. A força do primeiro filme era cozinhar muitas coisas ao mesmo tempo com um equilíbrio absolutamente exacto nas doses. E na sequela nós tínhamos demasiada comédia, os vilões não eram fortes o suficiente, e não nos empenhámos na história de amor entre a Rosario Dawson e o Will. Ainda por cima arrancámos para a rodagem antes do que era suposto porque tínhamos de cumprir uma data de estreia, e toda a cena final se passava no topo das torres do World Trade Center, por isso tivemos e mudar o fim do filme mesmo no final do processo devido à tragédia do 11 de Setembro. Garanto que o «Homens de Negro 3» é muito mais equilibrado que o segundo filme, tem um equilíbrio melhor entre a comédia, a ação e a emoção. Mas o que é interessante é que pelo facto de já se terem passado dez anos, acho que as pessoas não separam o primeiro filme do segundo, elas pensam apenas nos «Homens de Negro» e se gostam querem ir ver outro. Já não dizem «adorei o primeiro, detestei o segundo», dizem «ah, sim quero ver outro».
A saída de Tommy Lee Jones e a entrada de Josh Brolin
Esse foi um dilema difícil de resolver e uma decisão difícil de tomar. O «Homens de Negro» é um «buddy film» entre as personagens criadas por Will Smith e por Tommy Lee Jones. Será que a audiência vai aceitar mudar de ator a meio do filme, quando passamos para 1969? E será que o próprio Tommy vai aceitar? Mas nós sentimos que precisávamos mesmo de revitalizar a série, e que a viagem no tempo nos permitia isso. Só que isso impedia o Tommy de estar na parcela do meio do filme. O Tommy tem sido ótimo na série, ele criou a personagem e eu adoro trabalhar com ele, mas ele poderia ter dito que não, e eu compreenderia a decisão dele. Felizmente, ele concordou. E o Josh Brolin é tão bom no papel que nos esquecemos que estamos a ver dois atores diferentes, parece a mesma personagem em épocas distintas da vida. Mas foi uma decisão difícil, não o nego.
As novas celebridades alienígenas
Tal como nos primeiros filmes, há figuras conhecidas a surgir de raspão nos ecrãs de monitorização de entidades extraterrestres. Neste caso, temos, por exemplo, a Lady Gaga, o
Justin Bieber, o David Beckam ou o
Tim Burton, todos por razões diferentes: o Tim Burton porque conhece alguns aliens e é amigo deles, o Beckham porque só pode ser assim tão bom por ser alienígena, a Lady Gaga por razões óbvias, e o Justin Bieber porque também só pode mesmo ser um extraterrestre. Mas tivemos de ter permissão de todos eles para os usar. Não quis ir para políticos porque por um lado eles não são internacionais o suficiente e por outro daqui a quatro anos provavelmente ninguém se lembrará deles.
Os «aliens» dos anos 60
Em 1969, os extraterrestres que vemos são aqueles que veríamos no cinema ou na televisão por aquela época. O Rick Baker [o responsável pela caraterização, o nome mais mítico da sua área] teve a belíssima reflexão de que, se a tecnologia dos Homens de Negro evoluiu ao longo de 40 anos, então o mesmo princípio deveria ser aplicado à tecnologia dos alienígenas. Por isso, em 1969 todos os «aliens» são retro e têm de usar capacetes de tipo aquário porque ainda não aprenderam a respirar na Terra. O Rick foi fundamental para ajudar a concretizar esses extraterrestres, até porque eu não percebo nada de ficção científica e as referências que ele lá colocou passam-me todas ao lado.
O afastamento do cinema
Efetivamente,
«Com a Casa às Costas», em 2006, tinha sido o último filme que realizei para cinema, que fez muito bem nos EUA mas correu muito mal na Europa, o que é compreensível porque as férias de caravana são um fenómeno mais americano. Eu levo sempre muito tempo a conseguir montar um projeto e tentei fazer diversos filmes, que foram cancelados a meio do trajeto. Entretanto fiz muita televisão, incluindo a série
«Pushing Daisies». E o bom da televisão é que desde a altura em que decidimos fazer um piloto até o rodarmos e percebermos se a estação vai dar luz verde à série, passam-se apenas uns três meses. Estes filmes levam mais de dois anos a fazer, e isso é muito tempo para depois esperar pela primeira sexta-feira à noite para saber se as pessoas gostaram. Por outro lado, na televisão somos anónimos, ninguém sabe dos pilotos que eu realizei e que não foram comprados, nunca tenho de ler sobre o quão maus eles eram. Além de tudo, o material que me foi chegando também não era o correto, porque eu sou um realizador muito específico, que tendo a realizar comédias com um certo estilo visual. Eu tenho filmes que quero fazer que são demasiado baratos para Hollywood: por exemplo, há seis anos que quero fazer uma fita de 60 milhões de dólares e não consigo, porque os estúdios ou querem fazer filmes de um milhão ou de mais de 100 milhões... e não aceitam nada que esteja no meio disso.
Veja aqui as entrevistas do SAPO a
Will Smith e a
Josh Brolin.
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