O Festival de Cinema de San Sebastián prestou esta terça-feira uma homenagem ao ator argentino Ricardo Darín, que recebeu o prémio honorário Donostia pela sua carreira e pelo facto de ser um rosto fundamental na cinematografia latino-americana.
"Receber esta grande honra neste lugar que hoje já sinto como a minha casa é algo que realmente não esperava", disse o ator de 60 anos ao receber, na noite de terça-feira, o prémio do festival, considerado o de maior peso do mundo hispânico.
Darín, o primeiro sul-americano a receber o Donostia, disse na cerimónia no auditório Kursaal que queria estender seu prémio "à Argentina, e a toda a América do Sul, que o merecem".
Além de reconhecer os colegas que cruzaram o seu caminho durante uma carreira de cinco décadas no cinema, teatro e televisão, disse com a voz emocionada: "Quero dedicar este momento aos amores da minha vida, a minha mulher, os meus filhos, as minhas irmãs, os meus sobrinhos e os meus amigos, que são muitos e muito bons".
Numa conferência de imprensa em que se mostrou bem-disposto, Darín indicou que o Donostia o obrigava a "olhar para trás, coisa que normalmente não" faz, para ir "inevitavelmente recordando coisas, sensações, abraços, amores". "Enfim, é muito lindo", concluiu.
O ator de filmes de sucesso como "Nove Rainhas", "O Segredo dos Seus Olhos" (vencedora de um Óscar e um Goya) e "Relatos Selvagens", que trabalhou com realizadores como Adolfo Aristarain, Juan José Campanella, Fabián Bielinsky e Fernando Trueba, ressaltou "essa sensação vertiginosa de encarar cada história, cada projeto, sem se sentir nisso o que se chama de zona de conforto, que pode ser má conselheira e enganadora".
Presidente Darín
O prémio honorário coroa uma estreita relação de Darín com o festival, que se foi apaixonando pelo argentino ao longo das suas visitas sucessivas, seja para apresentar filmes, ser membro do júri oficial (2012) ou ganhar a Concha de Prata de Melhor Ator por "Truman" (2015).
Em San Sebastián, Darín apresentou, fora da competição, "La Cordillera", um 'thriller' político de Santiago Mitre em que interpreta um presidente argentino, obrigado a tomar decisões incómodas numa cúpula de líderes latino-americanos nos Andes chilenos, ao mesmo tempo que lida com uma crise familiar.
Ao contrário da sua personagem, Darín "nunca" consideraria uma carreira política porque carece de "frieza suficiente para estar num território tão minado", disse, antes de se esquivar a uma pergunta sobre a situação na Espanha, a poucos dias do referendo de autodeterminação na Catalunha proibido pela justiça.
A veterana realizadora francesa da 'Nouvelle Vague' Agnes Varda recebeu, no domingo, outro prémio Donostia, enquanto o terceiro será entregue na quarta-feira à italiana Monica Bellucci.
O poder da culpa
Dentro da seção oficial do festival, em competição pela Concha de Ouro, foi apresentado esta terça-feira "Pororoca", a terceira longa-metragem do romeno Constantin Popescu, um duro drama sobre uma família feliz cuja vida muda para sempre quando a sua filha pequena desaparece.
"É um filme que fala sobre o silencioso poder da culpabilidade" e a dificuldade "de levar a vida normalmente depois de um acontecimento como esse", indicou Popescu em conferência de imprensa.
No total, há 18 filmes em competição, da Argentina, Espanha, França, Alemanha, Estados Unidos, Áustria, Polônia, Grécia e Roménia.
Em Horizontes Latinos, a secção para filmes latino-americanos deste festival que dá visibilidade ao cinema da região, foram exibidos "Medea", da realizadora costa-riquenha Alexandra Latishev, sobre uma jovem que tem uma gravidez indesejada, e "La Educación del Rey", uma obra-prima do argentino Santiago Esteves.
A 65ª edição do festival termina no sábado, com a cerimónia de prémios.
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